Com uma boa introdução algumas cenas de ação decentes, a obra consegue entreter. Porém, o incômodo de que faltou algo acaba se tornando constante ao longo do filme.
Assim como em qualquer gênero, os filmes de ação são marcados por regras bem definidas. Porém, isso não significa que não haja espaço para mudanças e atualizações. Basta pegar exemplos recentes, como “Mad Max: A Estrada da Fúria”, “John Wick”, a franquia Bourne ou “Atômica”, para perceber que atualizações, mudanças e inovações são sempre bem-vindas. Obras que, de alguma forma, se mostram resistentes aos novos olhares de um gênero, tendem a nascer datados. Por outro lado, seguir fórmulas à risca não é exatamente a chave para o sucesso. “Um Dia para Viver” é um filme que caminha por esses conceitos.
A trama acompanha Travis Conrad (Ethan Hawke, de “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”), um ex-soldado que por algum tempo trabalhou para uma empresa envolvida em experimentos com cobaias humanas. Depois de largar o emprego (quando sua mulher e seu filho morreram), ele recebe uma oferta para um último trabalho. Porém, isso vai colocá-lo numa situação delicada, principalmente quando ele percebe que foi alvo de um experimento e que só lhe restam 24 horas de vida.
A narrativa deixa bem clara a noção de urgência, e a direção é eficiente em guiar a narrativa, com uma apresentação rápida do protagonista e do conflito que será explorado durante o segundo ato. O fato de Travis saber que tem menos de um dia para resolver um problema é uma estratégia simples, mas funcional para fazer o filme se movimentar com uma pressa justificada. O diretor Brian Smrz (“Herói”) busca seguir o ritmo marcado do cronômetro, fazendo a trama avançar após cada bloco de ação.
Mas apesar da boa premissa e da consciência que o diretor tem de seu próprio trabalho, parece lhe faltar inspiração nos momentos mais importantes. As cenas de ação chegam rapidamente ao ápice, e algumas conclusões são pouco criativas. Em determinados momentos, parece que estamos revendo cenas de outros filmes do gênero. Desta forma, o diretor parece desperdiçar justamente o que ele melhor tem a oferecer: seu conhecimento em cenas de luta ou tiroteio.
Brian Smrz trabalhou por vários anos como dublê e assistente de direção. Isso oferece a ele um olhar apurado, tanto de movimentação dos atores quanto na direção destes. No primeiro caso, é fácil perceber que, mesmo com algumas cenas não tão inspiradas, as lutas são bem coreografadas e exploradas. Hawke convence e, apesar da idade avançada, não soa forçado nas lutas. Contudo, à direção parece faltar um pouco de refinamento, e duas coisas se destacam com isso. A primeira é que a história evoca um desapego com a realidade, nem sempre fácil de aceitar. Um misto de ações possíveis, mas improváveis, com ideias estúpidas que surgem no meio de uma cena. Se utilizando de velhos clichês, os tiroteios abatem todas as personagens em tela, exceto aquelas que não podem ser eliminadas. Isto somente vai reforçar a certeza de que nada de ruim vai acontecer aos protagonistas, perdendo o apego que o risco à vida deveria causar.
Soma-se a isso a montagem pouco criativa e por vezes confusa. A câmera bem posicionadas costuma ser ignorada em algumas sequências, perdendo assim parte da tensão. O resultado é suficiente para entreter quem procura por um filme de ação simples, mas fica aquela sensação de que poderia ser melhor, ou de que isso já foi feito outras tantas vezes.
Considerando o caminho atual que o gênero de ação toma, imaginar que “Um Dia para Viver” pode ser a primeira parte de uma franquia – o final aberto não sugere uma continuação, porém permite – não é uma notícia tão animadora. Se de um lado temos uma boa trama, que poderia tratar dos riscos da imortalidade e sobre a ética na ciência, o que é entregue acaba por se sustentar apenas na ação. Esta não é decepcionante, mas não se compara também com produções que tem se tornado cada vez mais cultuadas por quem busca um bom longa de ação. E testemunhar o desperdício de uma boa ideia pode ser mais frustrante do que assistir a um filme ruim.