O longa, mesmo trazendo questões de empoderamento, procura apenas entreter e divertir o público que busca por algo simples e que faça rir.
Embora as comédias de ação não sejam uma novidade em Hollywood, é fato que o subgênero vem apresentando cada vez mais obras de destaque no últimos anos. A categoria é uma escolha perfeita para quem quer ir ao cinema apenas para relaxar e se divertir. E ainda que “Meu Ex é um Espião” não vá se tornar um marco na vida dos espectadores, não há como negar que a obra é um prato cheio no quesito entretenimento.
O filme se desenrola após o término do relacionamento de Audrey (Mila Kunis, “Perfeita é a Mãe”) com Drew (Justin Theroux, da série “The Leftovers”). Ela e sua amiga Morgan (Kate McKinnon, “Perfeita Pra Você”) acabam se envolvendo em uma conspiração internacional ao descobrirem que Drew era, na verdade, um espião. Movidas pelo amor de Audrey e pela loucura de Morgan, a dupla vai tentar completar a perigosa missão dele enquanto são perseguidas por assassinos e agentes de organizações internacionais por toda a Europa.
Os primeiros minutos de “Meu Ex é um Espião” podem não ser dos mais animadores para quem esperava uma boa comédia, pois apresentam algumas piadas fracas e cansativas, mesmo em contraste com uma boa – porém sem grande impacto – sequência de ação protagonizada por Theroux. Mas quando a ideia de envolver as personagens principais em uma trama de espionagem começa a se desenvolver, a obra melhora substancialmente. Kunis funciona muito bem no papel de ingênua que evolui à medida que é forçada a se comportar como uma agente secreta. Além disso, mesmo com a história girando ao seu redor, ela é perfeita servindo de escada para McKinnon brilhar. A atriz está absurda em todos os sentidos da comédia, tanto física quanto de texto, mesclando nonsense e boa atuação com maestria.
A química entre as duas também é ótima, algo fundamental para o filme funcionar. Não é tarefa difícil comprar a amizade delas, e é ainda mais fácil querer ver cada vez mais cenas, situações e loucuras envolvendo a dupla. Méritos também para a diretora Susanna Fogel (“Parceiras Eternas”), que em seu primeiro grande longa soube dosar comédia e ação corretamente. Ainda assim, apesar de boas decisões relacionadas ao dinamismo da dupla e à aceleração nas cenas de ação, a obra acaba sofrendo por esticar demais a sua duração (1h57), prejudicando bastante o seu até então ótimo ritmo, especialmente no final do segundo ato.
Outro ponto muito divertido de “Meu Ex é um Espião” é o discurso de força feminina que permeia todo o roteiro. Mesmo a história acontecendo por conta do amor de Audrey por seu ex, é na relação de amizade entre ela e Morgan que todo o filme se constrói. E esse assunto também é tratado de forma bem explícita, como nas constantes falas motivadoras (engraçadíssimas) entre as personagens, e na paixão imediata de Morgan por Wendy, chefe de uma organização secreta interpretada por Gillian Anderson (da série “Arquivo X”).
É evidente – e de se esperar – que a importância da trama seja diminuída em prol das piadas e situações cômicas. Porém, mesmo assim, o longa também funciona nesse aspecto. Ao trabalhar com duas protagonistas sem nenhum conhecimento do mundo da espionagem, a obra satiriza o absurdo (e o ridículo) de franquias como “Missão Impossível”, “Bourne” e “007”, que sempre acabam caindo na mesmice. Contudo, o filme faz isso sem esquecer das cenas de ação, trazendo um nível de violência e sanguinolência até bem exagerado para uma comédia.
Mesmo subvertendo algumas ideias do seu subgênero e trazendo um discurso empoderador, “Meu Ex é um Espião” não se torna marcante por nada disso. O que a obra procura é entreter o público de forma agradável e garantir boas risadas. E, como uma boa “Sessão da Tarde” em um dia tedioso, é uma ótima opção de diversão.