Sem vergonha de ser exagerado e rodeado por todos os clichês possíveis, o longa oferece o entretenimento simples e é eficiente na hora de entregá-lo. Mesmo que alguns detalhes pudessem ser evitados ou melhor trabalhados, há uma coerência interna que justifica o filme.
Dwayne Johnson (“Rampage: Destruição Total”) é sinônimo de blockbuster no cinema atualmente. Seus longas costumam ser gigantescos, com muita ação e sequências improváveis, mas que no final funcionam e divertem o público. Sem muito primor técnico ou roteiros bem elaborados, um filme de “The Rock” hoje não costuma acompanhar o público após a sessão, por isso deve ser tentar extrair da produção o que ela oferece durante a projeção. No caso de “Arranha-Céu: Coragem Sem Limite”, trata-se de muito exagero e diversão.
A trama não deixa claro a real magnitude da obra. O ex-agente do FBI, Will Sawyer (Johnson) – aposentado da função após um acidente de trabalho que o deixou sem uma perna -, trabalha numa agência de segurança e foi contratado para liberar a parte residencial do maior edifício do mundo. Porém, ele se vê cercado num conflito envolvendo um mafioso e o dono do edifício, enquanto precisa fazer de tudo para salvar sua família.
A sinopse lembra o clássico “Duro de Matar” e não é por acaso. O longa tem forte influência do cinema de ação das décadas de 1980 e 90, com os exageros que o público atual exige para este tipo de filme. A diferença é que aqui as cenas de lutas são mínimas, pois o foco maior concentra-se nas atitudes envolvendo o protagonista. E quando se envolve um ator como “The Rock”, a ação abraça a galhofa sem medo e o resultado tende a ser satisfatório na maioria dos casos.
E para atingir esse efeito, tanto o roteiro quanto o diretor parecem estar cientes da magnitude envolvendo Dwayne e da fragilidade do texto. A narrativa é frágil e a história não funciona por si. Há uma dependência substancial da figura carismática do ator, o que acaba resolvendo o problema da simplicidade do texto. É realmente possível acreditar que Will Sawyer é capaz de realizar as ações impossíveis que estamos vendo. E, enquanto o roteiro funciona por saber posicionar seu grande ator no centro da trama, a direção de Rawson Marshall Thurber (“Um Espião e Meio”) se preocupa em contar uma história rodeada de exageros e clichês, o que acaba se tornando o que há de melhor e pior no filme, dependendo da interpretação do público.
Acontece que “The Rock”, como já citado, tornou-se um símbolo de si mesmo. Seus trabalhos nas telonas são exagerados como ele mesmo o é. E essa mitologia do absurdo parece funcionar essencialmente no seu protagonismo. É o que torna algumas das cenas minimamente críveis, embora a suspensão de descrença precise ficar ligada do começo ao fim para poder aproveitar o longa de alguma maneira.
Certamente “Arranha-Céu: Coragem Sem Limite” não é uma produção que ficará na memória de fãs ao longo dos anos, como os clássicos que o inspiraram. Mas uma coisa é importante ressaltar: poucos conseguem convencer o público com suas atuações tão bem quanto Dwayne Johnson. E não é por se tratar de um excelente ator (algo que ele não é e demonstra estar bem ciente disto), mas por saber usar seu carisma como ferramenta narrativa. Aqueles que buscam filmes coerentes podem se sentir ofendidos com uma ou outra cena. Mas sejamos honestos, talvez os errados sejam eles por não compreenderem o exagero intencional da obra.