Entre as ótimas atuações de Benicio Del Toro e Josh Brolin, esconde-se um longa que oscila das excelentes sequências de ação ao conveniente final. Se não é o melhor filme do ano, pelo menos não chega a ser ofensivo e garante bons momentos como entretenimento
Em 2015, quando Denis Villeneuve (“Blade Runner 2049”) lançou “Sicario: Terra de Ninguém”, ele já era um diretor conhecido em Hollywood e com uma assinatura muito própria em seus filmes. Bastavam alguns minutos de tela para identificar o ritmo bem cadenciado e a fotografia que enchia a tela. A paciência para demonstrar cada elemento do primeiro ato com o cuidado necessário e a refinada montagem que, mesmo parecendo complexa, não tirava o público da trama principal. Mas se o filme era o resultado de um trabalho feito com cuidado, por um diretor que sempre deixa sua marca por onde passa, o mesmo não se pode dizer da sequência, “Sicário: Dia do Soldado”.
Desta vez, o longa é comandado pelo italiano Stefano Sollima (da série “Gomorra: La serie”). A trama acompanha a missão envolvendo Alejandro (Benicio Del Toro, de “Star Wars: Os Últimos Jedi”) e Matt Graver (Josh Brolin, de “Deadpool 2”), que sequestram a filha de um traficante para iniciar uma guerra entre cartéis no México e com isso justificar ações militares dos Estados Unidos no país vizinho. Porém, tudo vai por água abaixo quando uma emboscada cria um problema diplomático entre os dois países, colocando Alejandro numa situação delicada.
Dirigir a continuação de um filme feito por um diretor conhecido e com características muito próprias não é um trabalho fácil. Por isso é importante reconhecer os méritos de Sollima. Ele lida com o estilo estabelecido no primeiro filme, deixando tudo com o mesmo tom. Mesmo não sendo uma obra de Villeneuve, não há um distanciamento visual gritante. Isso não interfere em nada na existência deste filme de forma isolada. O que acaba sendo o principal mérito da sequência, mesmo dependendo de acontecimentos explorados anteriormente, quem for ao cinema sem tê-lo visto não ficará confuso, sem entender alguns pormenores.
O que falta mesmo é coerência narrativa, tão presente anteriormente, mas que aqui se perde. O primeiro ato utiliza ataques terroristas como motivação para toda trama central. Contudo, tudo o que acontece nos primeiros minutos é deixado de lado de forma abrupta. O que mais incomoda é a ausência de um prólogo, que poderia ser ignorado sem afetar a trama. Mas quando o roteiro coloca junto com o primeiro ato, torna-se um problema incômodo quando o público se dá conta que os minutos iniciais serviram apenas de desculpa.
E enquanto o roteiro se perde no começo, a montagem prejudica as sequências finais. O tempo estipulado pela narrativa não condiz ao que de fato o público vê. Acaba sendo perceptível que algumas cenas foram removidas e substituídas às pressas, para evitar um prolongamento maior. Isso acaba gerando algumas coincidências incômodas nos momentos finais.
Mas se os primeiro e últimos minutos são problemáticos, o que há entre eles é bem convincente e funcional. Há bons momentos de tensão, capazes de prender o público com eficiência tanto do diretor, por construir bem as sequências, quanto da dupla de protagonistas del Toro e Brolin. Ambos possuem domínio absoluto quando a câmera decide apostar neles. Não são nem caricatos, nem planos, mostrando que mantê-los no longa foi uma ótima decisão.
Embora “Sicário: Dia do Soldado” não seja um filme marcante, funciona muito bem como um thriller. A tensão está sempre presente, muitas vezes acompanhado por uma insistente trilha sonora, mas que não prejudica o resultado final. Não fossem algumas cenas logo no começo e perto do final, certamente estaríamos diante de um dos grandes filmes do ano. Mesmo assim, o que chega ao público não é decepcionante. Ficou faltando apenas um toque mais autoral.