Controlado e divertido, o filme é a pedida perfeita para uma sessão de cinema em família.
A comédia é um gênero que trabalha com um espectro de humor. Muitas vezes aliada a outros estilos, a arte do fazer rir possui nuances que fazem com que públicos diferentes respondam de forma distinta ao mesmo filme; nem sempre duas pessoas vão achar a mesma cena engraçada na mesma intensidade. “Lá Vêm Os Pais” usa isso a seu favor, apostando em diversos estilos de comédia ao longo de sua duração, e usando um drama leve como pano de fundo para conduzir suas situações bizarras.
Isso não é dizer que o filme da Netflix é complexo. O longa conta a história de duas famílias que se veem postas sob o mesmo teto por conta de um casamento, fazendo com que os patriarcas Kenny Lustig (Adam Sandler, “Os 6 Ridículos“) e Kirby Cordice (Chris Rock, “Gente Grande 2“) entrem em confrontos constantes devido às suas diferentes capacidades financeiras e o que eles acham serem as melhores escolhas para o casório de seus filhos. O roteiro mantém essa linha narrativa facilmente, não só sendo ciente de sua simplicidade, mas fazendo uso dela para dar espaço para as situações inusitadas que quer explorar.
A química entre Sandler e Rock dá a fundamentação necessária para isso acontecer. Tendo se conhecido em 1990 no elenco do programa Saturday Night Live e trabalhando juntos desde então, a dupla se complementa muito bem, aproveitando o timing de humor um do outro, e explorando as dinâmicas em cena a contento. A história consegue aprofundar no temperamento dos dois através de suas interações entre si e com o elenco de apoio, de forma que os personagens se tornam identificáveis para o público.
Este ponto é fundamental para o sucesso da obra. Os esforços, por vezes estúpidos, de Kenny e Kirby em fazer um casamento perfeito para seus filhos são empreendidos para compensar suas falhas individuais como figuras paternas. Enquanto Kenny se sente um pai ruim por não poder proporcionar financeiramente o que gostaria para sua filha, o rico Kirby sabe que foi ausente e omisso na criação de seu filho. Assim, a comédia do filme somente funciona por causa da credibilidade que sua camada séria proporciona.
A trilha sonora concorda com a direção de Robert Smigel (co-roteirista de “Zohan” e também ex-participante de SNL), dando um passo atrás e optando por não pesar nas cenas. Confiando na qualidade de seus atores, o diretor se afasta, dando espaço tanto para os diálogos quanto para o humor físico. Essa direção comedida de Smigel se solta nas cenas que precisam demonstrar o quão lotada a casa está, quando a câmera acelera entre diversos rostos, gerando uma sensação de divertida claustrofobia, tão comum para tantas famílias em suas datas comemorativas.
Conscientemente simples, “Lá Vêm Os Pais” é agradável e ótimo para ser visto em família, gerando um tempo de qualidade através da identificação proporcionada pelos seus personagens. Com seu humor conduzido pela trama de pais que precisam abrir mão de seus filhos, é capaz até de fazer emocionar caso ressoe com o momento vivido por sua audiência. Um excelente exemplo de que até mesmo o hiperbólico Adam Sandler sabe que, muitas vezes, menos funciona mais.