Do pôster até o seu fim, o longa é incapaz de assustar, ser interessante ou mesmo passível de ser assistido sem revolta.
Certos conceitos são poderosos o suficiente para serem postos em qualquer formato e ainda funcionarem com fluidez. Outros nascem em forma de curta-metragem e assim deveriam morrer. Depois de “Quando as Luzes se Apagam“, baseado no curta “Lights Out“, de 2013, “Selfie Para o Inferno” alonga menos de dois minutos de curta-metragem em uma hora e quinze de tramas desconexas, diálogos pífios e medo inexistente, transformando a experiência de assisti-lo em um purgatório interminável.
Esse arremedo de longa-metragem (que inclusive mal se qualifica a ser um, correndo por meros 75 minutos) traz a história de Hannah (a estreante Alyson Walker), uma moça que recentemente perdeu sua mãe e recebe sua prima vlogger Julia (Meelah Adams, do curta original) para passar um tempo com ela em sua casa. Julia subitamente tem um ataque, entrando em coma, e a vida de Hannah começa a virar de ponta-cabeça quando começa a receber mensagens, áudios e vídeos assustadores do celular de sua prima – que continua comatosa. Com o crescente horror, Hannah decide entrar na DeepWeb para decifrar as mensagens e tentar salvar sua prima.
Este simples resumo – que possivelmente já tem mais palavras coordenadas coerentemente do que o roteiro inteiro do longa – já demonstra a colcha de retalhos que é “Selfie Para o Inferno”. A proposta central é apresentada logo na abertura do filme, com um vlog de Julia falando sobre como as diversas mortes causadas por selfies já estavam se tornando um grave problema, apenas para ignorar essa ideia completamente em seguida. Mesmo sendo bem curto, o filme se arrasta infinitamente enquanto carrega a audiência por subtramas confusas – mãe morta? DeepWeb? Perseguidor sinistro? – que nada têm a ver com o tema do longa.
O elenco tenta trabalhar com as migalhas que o roteiro de nível colegial e a direção limitada lhes jogam, buscando cavar emoções em seus personagens rasos, enquanto quatro propostas de filmes de terror diferentes colidem em uma tortura cinematográfica contra o público. Alyson Walker, que interpreta Trevor, têm momentos agradáveis de atuação, e consegue passar algum senso de urgência enquanto sua personagem mergulha no caos. Meelah Adams, por outro lado, só ocupa espaço nos (curtos) créditos, apontando minimalisticamente para o curta-metragem que originou o filme – o qual, em um minuto e quarenta segundos, consegue ser mais interessante e assustador do que todo este longa.
Isso porque a audiência não encontrará, nem terror psicológico, nem bons sustos neste filme. Os jump scares, colocados nos momentos mais absurdos e deslocados possíveis, são telegrafados e em momento algum conseguem passar medo para quem infelizmente está assistindo. O roteiro segue viajando de retalho a retalho, incapaz de se estabelecer em seu gênero, enquanto cabe aos espectadores somente se perguntarem o que está acontecendo e esperar o fim da película.
“Selfie Para o Inferno” é uma experiência terrivelmente tediosa, digna de ser projetada eternamente em um dos Nove Círculos de Dante, enquanto o condenado espera ansiosamente pela próxima tortura. Mesmo sendo curto para tratar de todas as vertentes que procura abordar, consegue ser atrozmente longo ao não ter qualquer lógica ou estrutura narrativa, com diversas inconsistências de roteiro e cadência inexistente na condução da história. Não merecendo ser visto como pagamento de aposta ou como um trash. É um longa condenado ao esquecimento, e é melhor assim.