Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 07 de junho de 2018

Oito Mulheres e um Segredo (2018): pouco original, mas extremamente elegante

Aproveitando o estilo visual da franquia 'Onze Homens e um Segredo', Gary Ross consegue entregar um filme que mantém a essência dos anteriores, com um novo elenco que garante o ar de novidade, mas sem criar algo tão novo assim.

Alguns assaltos são deliciosamente divertidos de se assistir no cinema. Das sequências musicais de “Hudson Hawk – O Falcão Está à Solta”, à claustrofobia silenciosa de “Rififi” e, é claro, a montagem ágil e elegante de “Onze Homens e um Segredo”. O cinema consegue se beneficiar de cortes rápidos, planos sequências divertidos e contar novas histórias sobre os mesmos temas. Embora nem todo o assalto precise ser inesquecível, dentro de um filme ele precisa ser bem orquestrado.

“Oito Mulheres e um Segredo”, dirigido Gary Ross (“Um Estado de Liberdade”) tem uma proposta simples e entrega exatamente o que propõe. Debbie Ocean (Sandra Bullock, de “Especialista em Crise”), irmã de Danny Ocean (George Clooney, de “Jogo do Dinheiro”) sai da prisão e decide assaltar um colar de diamantes e, de quebra, se vingar de um ex-parceiro que a colocou na cadeia. Para isso, irá contar com a ajuda de sua amiga Lou (Cate Blanchett de “Thor: Ragnarok”) e de mais seis mulheres.

A dinâmica deste filme se mantém sempre próxima à da franquia, mostrando que existe uma supervisão buscando a identidade visual/narrativa. Gary Ross reproduz a direção de Steven Soderbergh (“Logan Lucky: Roubo em Família”) do começo ao fim. Isso garante uma fidelidade aos filmes anteriores e reforça a conexão, uma vez que no texto as menções são pontuais (o que não prejudica em nada a trama). Porém faz falta um elemento novo para a franquia. É evidente que optar por um elenco feminino como protagonista é uma mudança bem vinda, mas o resultado soa como a mesma ideia, só que com novas personagens.

Isso, no entanto, não reduz o principal mérito do filme. Trata-se de um entretenimento eficiente e interessante. Várias piadas funcionam e as que sobram não chegam a ofender. Mas o longa se garante mais como uma obra divertida, que talvez não faça o público gargalhar (o que, novamente, não afeta o resultado final). Nesse sentido, a personagem de James Corden (“Pedro Coelho”), o investigador John Frazier, se destaca – muito em parte do carisma do próprio Corden como comediante. Sendo a principal, para não dizer única, personagem de elenco masculino realmente interessante.

Mas é o elenco principal que ganha – e merecidamente – o principal destaque. Bullock e Blanchett brilham como já lhes é habitual. As atrizes reproduzem os papéis de Clooney e Brad Piit (“War Machine”), introduzindo trejeitos específicos, mas mantendo a relação dinâmica. Sandra Bullock ainda consegue trazer à tela alguns ecos do irmão, mostrando que alguns olhares, além do inteligente sarcasmo, estão no sangue da família Ocean. As demais atrizes, por fim, cumprem o papel coadjuvante no mesmo nível de excelência. Helena Bonham Carter (“Alice Através do Espelho”), por exemplo, é exageradamente caricata, como já nos acostumamos de seus filmes anteriores, o que serve bem à personagem. Situação parecida com o que acontece com o papel de Anne Hathaway (“Colossal”), Daphne Kluger. A interação do grupo é bem apresentada e as personagens assumem funções relevantes quando necessário.

O resultado culmina numa sequência muito boa, vendo o plano que acompanhamos sendo posto em prática. Faltam alguns bons momentos de tensão durante a execução, o que faz com que sejam raros os momentos em que o público considere um possível fracasso do roubo. O que demonstra que o rigor estético estava em primeiro plano, faltando a já citada originalidade.

Ignorando eventuais problemas de continuidade – reflexo de uma possível edição que tentou reduzir alguns minutos do filme – a história de “Oito Mulheres e um Segredo” é divertida e funciona muito bem, seja como sequência da franquia “Onze Homens e um Segredo”, seja como um filme independente. Ademais, é agradável ver um elenco feminino junto, com escolhas bem justificadas para tal. Soma-se a isso a direção e montagem eficientes que, se pecam na originalidade, se garantem muito bem na elegância que o filme pede.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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