Com algumas qualidades técnicas excelentes, o longa se sabota ao tentar abordar vários temas ao mesmo tempo, quando nem mesmo a premissa do filme é bem utilizada.
Abordar inúmeros temas diferentes em um longa de duas horas não é, necessariamente, a receita para o fracasso. Quando se trabalha pela harmonia de aspectos técnicos, roteiro eficiente e direção competente, embora trate-se de uma tarefa difícil, é possível atingir resultados notavelmente complexos e significativos. “Submersão“, mais recente trabalho do célebre diretor alemão Wim Wenders (“O Sal da Terra”), exemplifica bem como, ainda que o filme apresente ótimas qualidades, quando não há o equilíbrio perfeito, ele acaba afundando em suas próprias pretensões.
Baseada num livro homônimo escrito por J.M. Ledgard, a trama acompanha dois momentos truncados da história de amor entre Danielle (Alicia Vikander, “Tomb Raider: A Origem”), exploradora do oceano em busca de provar sua tese sobre a origem da vida, e James (James McAvoy, “Atômica”), misterioso espião britânico disfarçado de empreiteiro que atua no ramo da água na África. Enquanto a primeira linha temporal é focada no início do relacionamento, quando ambos se conhecem em um hotel francês, o segundo momento aborda os acontecimentos nas missões de cada um, razão pela qual eles acabam se distanciando.
A relação do casal é o único respiro de inovação trazido por Wenders nesta obra. Por mais problemática que seja a narrativa escrita por Erin Dignam (“A Última Fronteira”), abarrotada de temáticas diferentes e sem saber como abordá-las de forma aprazível, o mérito aqui está em mostrar como duas pessoas, de esferas totalmente diferentes, seja na sociedade, ou ainda nos próprios pensamentos, podem se entregar a uma paixão intensa. E a forma árida e sem pieguices como esse elo é construído é bastante crível, sem se preocupar com o tempo de tela gasto para nos fazer acreditar na profundidade desse relacionamento.
Os aspectos técnicos são os poucos pontos levemente memoráveis do longa. Como era de se esperar de um cineasta do calibre de Wenders, a cinematografia é estonteante, trabalhando em perfeita harmonia com a trilha sonora – composta por Fernando Velázquez (“A Colina Escarlate”) – para levar o espectador a crer que está realmente submerso. Os planos vão ficando cada vez mais fechados após a separação do casal, aumentando a sensação de aprisionamento angustiante de ambos – ponto valorizado um pouco melhor no núcleo de James. Infelizmente, o equilíbrio entre a premissa e os demais pormenores do filme acaba ai.
Por mais que Vikander e McAvoy entreguem atuações dignas, a química entre eles fica comprometida, muito devido ao texto que lhes foi dado, bastante raso e artificial. Além disso, enquanto temas como religião, ciência, sobrevivência, terrorismo, desigualdade social e muitos outros são abordados de forma inteligente na primeira metade do filme, servindo de pano de fundo para a história principal (a do casal relacionada com a água), a trama parece de desconectar completamente da temática primordial à medida que a narrativa segue. As proposições citadas, antes servindo de gatilhos para reflexões do espectador, agora parecem cada uma ganhar vida e lutarem por seus espaços em tela, limando a atenção do que realmente interessa e vinha sendo destacado até então.
Não bastasse apresentar um enredo que mostra muita dificuldade de se sustentar sozinho, a obra ainda conta com uma montagem ordinária, expondo erros de transição e várias decisões ruins sobre quando trocar de linha temporal. Isso faz com que as tramas de Dani, de James e dos dois juntos se atropelem a todo momento, transformando a já desagradável experiência de assistir ao longa em algo agressivo para os olhos dos espectadores.
No fim, o que aparentava ser um filme contemplativo e cheio de conteúdo, mostra-se apenas como uma bela, porém mal executada, tentativa de ser algo profundo. Percebe-se que até nesse aspecto o longa não conseguiu se manter fiel a ideia introduzida pelo seu título.