Sem muitas novidades, Deadpool 2 é a sequência que sabe otimizar o que deu certo no primeiro. Mas desta vez, as piadas, a violência e a quebra da quarta parede já não causam o mesmo efeito, deixando a impressão de que, mesmo divertindo, poderia ser melhor.
Existem duas formas básicas para contar uma piada num filme: ela pode estar inserida numa sequência ou pode ser feita uma pausa para que ela seja exposta. A primeira costuma ser mais elegante, além de mais trabalhosa e complicada. É preciso inserir um contexto e, ao mesmo tempo, não pode deixar a ação morrer. No segundo caso, a piada tende a ser mais óbvia, podendo até afetar o ritmo, mas dificilmente não será eficaz. “Deadpool 2” consegue se beneficiar de ambas possibilidades, embora opte, sempre que possível, pelo mais fácil.
A trama apresenta o anti-herói assumindo o manto de justiceiro inconsequente, cria um drama pouco convincente e acrescenta novas personagens para tentar oferecer alguma novidade, mas no final, esta sequência não se afasta muito do filme anterior. Cable (Josh Brolin, de “Vingadores: Guerra Infinita”) volta no tempo para matar Russell (Julian Dennison, de “A Incrível Aventura de Rick Baker”), um mutante que será responsável pelo assassinato de milhares de pessoas no futuro (incluindo a mulher e a filha de Cable). Deadpool (Ryan Reynolds, de “Dupla Explosiva”) irá tentar convencer o mutante do futuro a dar mais uma chance ao garoto.
Essencialmente, há pouca novidade neste novo filme. O roteiro aproveita tudo o que funcionou no primeiro e potencializa. As piadas, a violência e as referências são constantes, só sendo deixadas de lado em situações pontuais. Das novidades, os únicos destaques são Cable e Domino (Zazie Beetz, de “Tempestade: Planeta em Fúria”). O primeiro foi utilizado para que pudesse ser introduzido para franquias futuras. Ele tem seus momentos, mas serve mais como muleta para o protagonista. Já Domino tem mais relevância na trama e, apesar de seus poderes não serem tão bem aproveitados, se limitando a consequências previsíveis, Beetz é carismática e demonstra estar bem à vontade nos momentos em que a câmera decide focar nela.
A direção de David Leitch (“Atômica”) não se destaca em momento algum, como em seus filmes anteriores, mas é eficiente e consegue trabalhar bem as personagens. As cenas de luta são discretas e rápidas, sem os já tradicionais planos-sequências que Leitch soube usar tão bem no passado. Mas ele demonstra estar consciente de cada movimento e constantemente arrisca planos fechados, seja para evidenciar a violência física ou simplesmente por estilo.
Um risco que o roteiro decide assumir é a ausência de um vilão bem definido. Cable tem seu momento nesse sentido, sendo substituído por outras personagens ao longo da história, contudo o foco está sempre no objetivo: salvar o garoto. Porém, é ao tentar desenvolver o filme que o roteiro se perde. A tentativa de criar um arco dramático ajuda a desenvolver melhor Deadpool, inserindo camadas onde antes só havia sarcasmo. Mas a diferença de tom mais atrapalha do que ajuda, um problema que se torna evidente com a solução covarde para resolver o conflito final.
Talvez o principal erro desta sequência seja apostar num roteiro mais complexo. Enquanto o primeiro tratava de uma história de vingança, aqui a viagem no tempo é estabelecida tanto como argumento narrativo, ao utilizar uma personagem do futuro nos dias atuais, quanto como recurso de roteiro, uma vez que a possibilidade de viajar no tempo é explorada pelos roteiristas para resolver algumas situações. O filme é eficiente na forma como utiliza o conceito, porém não há nenhum tipo de explicação, nem é estabelecida uma regra. Uma opção preguiçosa, cabendo ao público a simples, porém ingrata, função de aceitar o que é mostrado.
Certamente há uma evolução nesta sequência. O filme consegue definir bem seu próprio estilo e começa a construir um universo próprio, mesmo se perdendo eventualmente, quando decide se levar a sério demais. Na essência, há pouco além de uma chuva de piadas e referências, que vão desde o próprio cenário de filmes de heróis até 007. Mas como em momento algum o longa se propõe a trazer algum tipo de discussão (mesmo quando introduz o primeiro casal abertamente homossexual em filmes de heróis), não há nada de errado. É uma obra que aposta pesado numa fórmula própria, que deu certo no passado, embora desta vez deixe uma leve sensação de que poderia ter sido melhor.