Um filme que se apoia no humor físico e no excesso de piadas para conquistar o público sem se preocupar em desenvolver demais a trama.
A comédia é um gênero que costuma sofrer muito por conta de sua própria popularidade. Seu caráter universal é responsável por colocá-la sempre no centro das atenções. E mesmo quem não simpatiza muito, pode se pegar aproveitando de um ou outro riso – ainda que mais discreto. Talvez por isso seja um recurso amplamente utilizado para filmes baratos que tentam agradar o grande público. Espera-se uma risada ou algum tipo de divertimento similar, mas às vezes acabamos recebendo mais. Quando se busca entender o sucesso do gênero, que nos acompanha desde os idos do teatro grego, há um ponto fundamental: o timing. “Os Farofeiros” aposta no excesso e tenta convencer no esgotamento. O resultado, por mais que seja exagerado, funciona.
Na trama, Alexandre (Antônio Fragoso de “Querido Embaixador”), Lima (o humorista Maurício Manfrini), Rocha (Charles Paraventi de “É Fada!”) e Diguinho (Nilton Bicudo de “Filme B – A Van Assassina”) se reúnem com suas famílias para passar o réveillon juntos. Ao chegarem na casa alugada, descobrem que o local está completamente abandonado. Enquanto somam esforços para fazer as reformas necessárias e aproveitar o feriado, Alexandre precisa decidir qual dos três colegas terá que demitir, agora que subiu de cargo na empresa em que trabalha.
Na sua essência, o longa opta pelo humor físico, algo que remete muito às clássicas chanchadas, em especial às produzidas durante a década de 1950. Mas há mais do que apenas tropeções e tapas no filme. O roteiro consegue se utilizar da sua própria construção para criar o incidente e, de modo geral, tudo faz sentido. Não há genialidade, mas a forma como as piadas são utilizadas cumprem sua função. Há ainda um exagero no uso de palavrões e gracejos com duplo sentido (sempre tendendo para o conteúdo sexual), algo que pode incomodar parte do público que espera uma comédia familiar tradicional.
O diretor, Roberto Santucci (“Um Suburbano Sortudo”), aposta no seguro. O roteiro é simples e a direção não tenta inovar na forma de contar a história. Isso não significa, porém, que o filme não arrisque, mesmo que em doses homeopáticas. Há uma referência bem eficiente a “O Chamado”, com uma mudança na fotografia que cria um ambiente mais soturno, funcionando como piada mas, ao mesmo tempo, saindo da zona de conforto. Da mesma forma, quando Santucci opta pelo exagero para criar algo diferente, há um uso de CGI para uma cena com insetos gigantes, embora neste caso o efeito seja justamente o contrário, com a cena aparentando estar totalmente deslocada e sem efeito cômico funcional.
Há ainda uma tentativa, nem sempre eficiente, de desconstruir estereótipos. Para isso, a escolha da modelo e bailarina Aline Riscado para o papel de Elen é interessante, mas nem sempre eficaz. Embora sua função na trama seja irrelevante (com a exceção de algumas piadas, ela pouco interfere na obra) e seu relacionamento com Diguinho soe forçado o tempo todo, o exagero em evidenciar o corpo da atriz como um objeto de interesse vai contra a ideia de retratá-la como uma mulher interessante. Nilton Bicudo, por sua vez, é um dos principais problemas do filme. Sua atuação fraca demonstra uma considerável dificuldade em se manter na personagem, tornando tanto seus dramas pessoais quanto seus momentos cômicos pouco eficientes neste sentido.
“Os Farofeiros” funciona como uma comédia simples e pouco pretensiosa. Alguns momentos soam incômodos, mas há um discurso final que questiona a atitude exageradamente machista de uma personagem. Isso, porém, acaba sendo a exceção, pois o filme foge de situações que o tornem politizados e se foca no humor simples e pastelão. Está longe de ser uma obra memorável, porém garante um bom divertimento para quem não espera algo muito além do riso simples.