A franquia que se iniciou dialogando com a geração Y se perde no capítulo final, saindo de uma distopia pobre e que caminha para uma utopia rasa. Essa linha que une os dois pontos é desenhada com um roteiro fraco, que privilegia a ação exagerada e deixa de lado a discussão.
Um dos grandes méritos da ficção científica é conseguir abordar problemas atuais, extrapolados em realidades distintas. A construção de um cenário – seja num futuro longínquo ou num presente alternativo – que discute a nossa sociedade é justamente um dos elementos que destaca o sci-fi dos demais gêneros (o terror costuma fazer algo semelhante, mas não lhe é essencial da mesma forma). Isto posto, é lamentável ver como uma franquia que começou tão bem no cinema foi se perdendo aos poucos, ao ponto de retirar o pé da ficção científica e afundá-lo com força (grosseira) na ação.
Em “Maze Runner: A Cura Mortal”, acompanhamos o protagonista Thomas (Dylan O’Brien, de “O Assassino: O Primeiro Alvo”) em sua busca pelo amigo Minho (Ki Hong Lee, de “7 Desejos”), que havia sido capturado pela C.R.U.E.L.. Para salvá-lo será necessário atravessar os muros da última grande cidade que ainda existe no mundo. Lá dentro, porém, Thomas percebe que há muito mais a ser resgatado.
Ao abrir mão da ficção científica – e é possível sentir isso logo na primeira sequência – e abraçar o cinema de ação, o diretor Wes Ball deixa claro que não terá mais interesse na discussão que os filmes anteriores (também dirigidos por ele) buscavam assumir. Mesmo assim, é necessário um nível muito elevado de suspensão de descrença para aceitar as soluções preguiçosas que o roteiro nos entrega. Não bastasse a resolução de um conflito surgir no momento exato de necessidade (o famoso deus ex machina), novos elementos são apresentados sem que haja ao menos uma justificativa.
Há, ainda, uma certa insistência em manter as personagens mal resolvidas até o último ato. Se por um lado isso trás um princípio de discussão, afinal, certo e errado são conceitos subjetivos e num conflito ambos os lados acreditam estar lutando pelo que lhes parece ser o melhor, o filme logo abandona essa possibilidade, fazendo com que a ambiguidade seja apenas um recurso fácil para tentar criar uma tensão. Assim, o conflito da geração Y (algo presente nos filmes anteriores) dá espaço à correria. As pessoas contaminadas e condenadas a viverem como zumbis (uma analogia que funcionava muito bem para a geração dos millennials) também ficam reduzidas a papel de parede. A presença delas serve apenas para criar um falso senso de urgência, além de uma cena de fuga que não passa de um clichê mal aproveitado.
Isso, porém, não significa que não existam bons momentos no filme. Algumas das cenas de ação são bem executadas e, mesmo com exageros – que se torna um problema quando o filme tenta se levar a sério -, criam sequências interessantes, apesar do constante uso de câmera tremida. Mas é Dylan O’Brien quem realmente se destaca, com uma atuação convincente e uma evidente evolução de personagem. Desta vez ele se mostra mais convicto nas suas decisões, mesmo ainda não demonstrando entender o que sua figura de liderança significa. Ao mesmo tempo, Teresa (Kaya Scodelario, de “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”) segue como a personagem mais interessante da franquia. Sua insistência em tomar decisões difíceis, quando ninguém mais parece conseguir fazer o mesmo, é bem explorada. O roteiro apenas se perde quando prolonga demais sua redenção final.
Ainda é necessário destacar a estética do filme. O design da cidade é bonito, fazendo referência aos centros urbanos super-iluminados dos universos cyberpunk, e as pessoas que se encontram do lado de fora dos muros também possuem uma bela composição. Porém, onde o filme começa a acertar é onde ele mais desperdiça potencial. Lawrence (Walton Goggins, de “Os Oito Odiados”) é uma personagem fascinante com uma conclusão incoerente. Ele surge para assumir um papel semelhante ao de Jorge (Giancarlo Esposito, de “Okja”) no segundo filme, como o homem que está nessa situação apenas pelo lucro. Jorge, porém, quando perde a sua função na trama, é relocado para uma outra função. Lawrence, por sua vez, sofre as consequências comuns de roteiros que não sabem o que fazer com personagens depois de cumpridas suas funções na trama, que neste caso é causar a batalha final. O conflito derradeiro entre a C.R.U.E.L. e os moradores do lado de fora da cidade é pateticamente gratuito, não acrescentando nada à trama, apenas reforçando o quanto o roteiro preferiu abrir mão da ficção científica para se focar numa ação grandiosa e exagerada.
Talvez o tempo das franquias, seja na literatura ou no cinema, das distopias que olham para a geração de jovens que buscam por identidade numa sociedade confusa e complicada esteja se aproximando do fim. “Maze Runner: A Cura Mortal” opta por deixar de lado conceitos que foram fundamentais em sua origem a se perde no básico. Para um gênero que se propõe criar uma discussão, o final da franquia pode decepcionar aqueles que se identificaram com a obra desde o princípio. O que sobra é um filme com algumas sequências interessantes, mas que perde a oportunidade de finalizar um ciclo. Nesse sentido, o slogan de que “todo o labirinto tem um fim” mostra-se verdadeiro. Aqui, todos andam numa linha reta.