Entre uma boa atuação de Gary Oldman e a qualidade da sua maquiagem, escondem-se possibilidades que a câmera deixa passar. O sentimento que fica é que este poderia ser um ótimo filme, se o protagonista fosse acompanhado de um melhor roteiro.
Retratar personagens históricos no cinema não é novidade. Já vimos políticos, físicos, músicos e tantas outras personalidades importantes, ou não, ganharem vida nas telas. Porém também não são raros os casos em que o filme parece se importar mais com a personagem do que com a própria história e, cria-se assim um roteiro simples que vai dar mais visibilidade ao ator do que ao contexto e este é o caso de “O Destino de uma Nação” .
Na trama, Gary Oldman (“Dupla Explosiva”) interpreta Winston Churchill durante um delicado momento vivido pela Inglaterra, quando os alemães avançavam pela França e Bélgica durante a Segunda Guerra Mundial. Com a incerteza do futuro e o medo de uma possível invasão, Churchill precisa tomar decisões rápidas para lidar com a situação.
Se há algo que merece destaque no filme é a caracterização do protagonista. O incrível trabalho de maquiagem transformou Gary Oldman em Churchill com tamanha perfeição, que por vezes tem-se a impressão que trata-se do próprio político em cena. Mas não se limita ao visual a qualidade e semelhança. A interpretação de Oldman é cuidadosa em evitar exageros e são nos pequenos detalhes que estão os grandes destaques. No olhar, ora confuso, ora imperativo, de um político que precisa lidar com uma situação delicada em um momento conturbado. Ou usando a voz nos momentos que necessita demonstrar confiança, sendo enérgico e contundente. Em postura, quando está diante do rei George VI (Ben Mendelsohn de “Rogue One: Uma História Star Wars”) , que é ao mesmo tempo submisso e provocativo. É o detalhe que evidencia a excelência de Gary Oldman, indo de um ponto ao outro, às vezes na mesma cena.
Porém, se o protagonista se destaca, é principalmente porque o diretor lhe abre espaço. A insistência em manter a câmera trabalhando em função do ator chega a ser cansativa em determinados momentos. Naturalmente lhe cabe o protagonismo, mas pouco sobra do filme para criar situações mais tensas ou desenvolver melhor as demais personagens. Perde-se com isso duas em especial: a esposa, Clemmie (Kristin Scott Thomas de “A Festa”), e a datilógrafa, Elizabeth Layton (Lily James de “Em Ritmo de Fuga”). Principalmente a primeira, uma mulher forte e fundamental para as motivações de Churchill, que pouco passa de um rascunho aqui, o que não lhe impede de se destacar quando o diretor decide lhe dar voz (algo que apenas reforça o quanto foi mal aproveitada).
E no restante fica apenas um lamento pelo que poderia ser. As oportunidades desperdiçadas pelo roteiro estão sempre presentes, mas a necessidade em buscar Gary Oldman as jogam para o escanteio. Num dos momentos mais sensíveis do filme, dentro de um vagão no metrô, é criada uma relação entre Churchill e a população londrina. Mas, apesar de toda a intensidade do momento, pouco (para não dizer nada) do medo da população é explorado. Quando a cena acaba, apesar de sua beleza narrativa, ela é vazia, pois sua construção é pontual. Não há um clímax de terror criado pela guerra. Não há um sentimento de perda nos olhares, apenas a vontade de motivar o protagonista.
Ainda assim, é importante ressaltar a beleza estética do filme. Há um cuidado em manter as cenas bem compostas, seja para evidenciar o vazio (a cena do telefonema de Churchill para o presidente dos Estados Unidos é ao mesmo tempo claustrofóbica e deprimente) ou (na maioria dos casos) para mostrar a presença de outras pessoas. Nesse último caso, a opção por planos abertos em ambientes fechados reforça a grandiosidade do protagonista, que precisa lidar com elas, uma vez que é o centro das atenções (algo que, mais uma vez, apenas reforça o protagonismo dedicado a Oldman).
“O Destino de Uma Nação”, enfim, perde-se ao entregar – mais uma vez – um filme apenas sobre uma pessoa. Algo isolado que poderia ser transposto para qualquer cenário ou contexto sem sofrer muitas alterações. A interpretação de Churchill se destaca, enquanto as demais personagens são tratados como peões que precisam se mover de forma mecânica para que o protagonista possa seguir sua linha. O sentimento de que poderíamos estar diante de uma grande obra vai morrendo aos poucos, algo que só não é pior por conta do excelente trabalho de Gary Oldman.