Entre erros e acertos, o filme é uma bela obra sobre mãe e filha em situações cotidianas, mas cansativo por problemas na direção e na montagem.
Situações cotidianas, quando bem exploradas, tornam-se um ótimo recurso para uma narrativa cinematográfica. Esse bom conjunto é reforçado quando a trama gira em torno de acontecimentos mundanos e relações afetivas entre pessoas próximas. “Fala Sério, Mãe!” aproveita-se justamente do banal para estabelecer os laços entre mãe e filha. Porém, se ele é honesto na simplicidade da proposta, acaba deixando a desejar na execução.
Dirigido por Pedro Vasconcelos (da novela “A Força do Querer”), o filme adapta o livro homônimo da escritora de obras teen, Thalita Rebouças. A trama acompanha a história do casal Ângela e Armando (Ingrid Guimarães e Marcelo Laham, ambos de “Um Namorado para Minha Mulher”), que têm sua vida transformada ao engravidar da primeira filha, Malu. Com a chegada de mais dois filhos, a situação torna-se ainda mais trabalhosa para o casal que tem que lidar com as peculiaridades de cada uma das crianças, ao mesmo tempo em que a situação do casamento vai se fragilizando.
A simplicidade do plot principal consegue se manter constante ao longo do filme, sendo este o principal mérito da obra. Não há reviravoltas, nem acontecimentos grandiosos. Toda a narrativa é honesta e simples, o que torna-se ainda mais interessante pelo relacionamento entre Ângela e Malu, que tem um bom desenvolvimento, perdendo-se apenas aqui ou ali durante a execução. Principalmente por parte de Ingrid Guimarães, que é forçadamente estereotipada e não convence quando precisa mostrar as dificuldades que uma mãe de primeira viagem enfrenta – a cena em que ela tenta amamentar a criança beira o ridículo, assim como no parquinho, quando Ângela compra a briga com uma criança para defender a filha. Contudo, a partir da metade do filme, quando Larissa Manoela (“Meus 15 Anos”) assume o papel de Malu, há uma evidente e satisfatória melhora na atuação de Guimarães, o que pode ser apenas um sintoma da falta de uma outra atriz para dividir as cenas com ela ou apenas a dificuldade em ter que representar uma mãe sem experiência. Em contrapartida, a jovem Larissa entrega uma performance ambígua. Se por um lado é consistente em demonstrar uma adolescente do século 21, a atriz derrapa quando demonstra estar totalmente presa ao roteiro (talvez uma consequência maior da falta de experiência, do que da falta de habilidade, algo que apenas os seus próximos trabalhos poderão nos mostrar).
Ademais, existem problemas técnicos, sobretudo na montagem. Até existe a bela utilização de uma régua que acompanha o crescimento de Malu e nos permite entender a passagem dos anos, porém a construção do tempo torna-se confusa em vários momentos. Em determinado ponto, Malu vai passar um tempo na praia com os amigos. O diretor opta por contar duas histórias paralelas mostrando o desenvolvimento da filha adolescente e a solidão da mãe. No primeiro caso tem-se a noção de horas, estendendo-se no máximo a um fim de semana. No segundo, a impressão é a de que se passaram dias. É aceitável imaginar que o tempo passe mais rápido para quem se diverte, mas a forma como a edição trabalha com as duas histórias simultaneamente, mais confunde do que justifica. Outro problema é que algumas cenas acabam se tornando mais longas do que o necessário. O que faz o filme ficar arrastado em alguns momentos, como quando Ângela está com os três filhos no supermercado e os obriga a tirar fotos com um ator que estava gravando um comercial. A cena, além de se apoiar na mãe estereotipada que nem sempre funciona tão bem, é excessivamente longa e apenas reforça o que já estava bem estabelecido, sem acrescentar qualquer detalhe novo na construção de personagens ou no próprio roteiro.
Ao mesmo tempo é importante reconhecer o quanto o filme é eficiente dentro de sua proposta. A relação entre mãe e filha é bem construída e, nesse sentido, existem alguns momentos muito bonitos. A câmera, de modo geral estática e que não arrisca ângulos diferentes (talvez um hábito do formato televisivo em que o diretor trabalha tão bem, mas que deixa a desejar no cinema), consegue enquadrar belos momentos de intimidade. E tais momentos só seriam possíveis nesse tipo de relacionamento. A imagem é tão bem aplicada, que o próprio diretor a repete, invertendo as posições das personagens, mostrando que se ora a filha é quem precisa dos cuidados da mãe, haverá um momento em que é a mãe que precisará da filha.
Há ainda os outros dois filhos, que estão ali apenas para preencher um espaço e criar soluções simples para o roteiro já simplório, pouco acrescentando à história. Ao menos o texto não se preocupa em deixá-los sempre presentes, além de construir um ou dois bons momentos com eles. Tendo como foco a filha mais velha e a mãe, fica apenas a dúvida se os outros filhos são coadjuvantes apenas no filme ou também na vida daquela família que, aparentemente não sabe lidar com três deles.
Sem se preocupar em criar uma narrativa complexa, “Fala Sério, Mãe” é um filme que até funciona no objetivo de mostrar uma mãe excessivamente preocupada e sua relação com a filha mais velha. A direção inconsistente prejudica a narrativa, mas não tira seus méritos. Talvez um outro diretor ou diretora, conseguisse equilibrar melhor a obra, dando mais enfase nos aspectos mais técnicos e “soltando” as atrizes para uma melhor performance.