Maria precisa chegar até Nazaré para o censo daquela época. Nesse caminho, feito junto com José e seu filho que carrega na barriga, eles contam com a ajuda (ou as trapalhadas) de Bo, um burrinho bem simpático. O filme é uma adaptação livre do nascimento de Jesus pelos olhos de personagens bem diferentes.
Em tempos de comédias animadas indo muito além da forma, é difícil posicionar “A Estrela de Belém” no mesmo páreo dos grandes estúdios de animação, mesmo que seja da Sony Animation e que não vá de todo mal.
A história, que provavelmente vários já conhecem de “cor e salteado”, segue o nascimento de Jesus por uma perspectiva completamente nova: a de Bo, um simpático burrinho. O roteiro faz uma livre reconstrução da história bíblica de José e a compra do burro para ajudar a carregar Maria, grávida, de Nazaré até Belém para participarem do censo. Se na Bíblia José compra o animal, no filme a relação deles começa bem ao acaso e, diga-se de passagem, de maneira levemente divertida. Tons épicos são dados para a aventura de Bo e sua trupe, composta pelo pombo Davi e a ovelha Ruth.
Quase nada rouba a cena no filme, talvez por tratar-se de uma história extremamente fácil e linear em demasia. Bo é um personagem fruto do mito do aventureiro preso, parecido com Luke em “Star Wars“. O protagonismo do animalzinho é bem construído e só peca em não conseguir ir além da camada mais superficial desse tal mito. A qualidade da animação é toda empregada para gerar carisma em seu protagonista e em Maria. No primeiro, os olhos emulam constantemente a expressão de um cachorro (aquela de quem quer falar algo, mas não sabe falar) e em sua voz com textura levemente arranhada lembrando o relincho de um burro. No segundo caso, Maria, são suas ações sempre calmas e perfeitas que definem nosso carinho pela personagem. A animação apela talvez em conceber à personagem uma silhueta um tanto quanto sexualizada, o que é inadequado e, mais ainda, antiquado para os padrões das animações modernas (vide “Moana“). Davi e Ruth são alívios cômicos e nada mais, e até José cai nessa de vez em quando.
Em se tratando de um filme voltado para o público infantil, caberia a tradução das músicas para o português. As canções ajudam a compor o assunto em questão na cena, mesmo que muitas vezes apareçam simplesmente jogadas. Porém, sem essa tradução, fica um pouco difícil para a criançada captar a letra e o tema abordado. Falando em trilha, as canções flertam com o gospel mais tradicional e às vezes com um estilo mais de prosa e até de música celta, o que não faz tanto sentido nesse último caso.
Seria comum esperar que o filme fosse fundo no maniqueísmo e não é nada surpreendente que a dupla de vilões seja extremamente unidimensional. O que é uma pena, pois essa poderia ser uma excelente oportunidade de não deixar o “mau” como o mau supremo, por mais que o “bem” pudesse permanecer como o bem supremo, sem ofender uma passagem bíblica tida como sagrada por muitos. Acredito já termos superado o maniqueísmo até em assuntos mais difíceis e aqui, em se tratando de um filme lotado de licenças poéticas, creio que não haveria problema algum em testar novas abordagens.
“A Estrela de Belém” passa longe das grandes animações, mas, apesar dos vários erros, não chega a ser totalmente desagradável. Talvez seja o suficiente para os olhos atentos dos pequenos após a tradicional ceia de Natal, mas seria mais do que isso, caso conseguisse criar maior sinergia com sua trilha sonora e desse mais importância aos personagens secundários.