Com um elenco excepcional, Steve Soderbergh volta para o gênero de assalto, mas dessa vez com uma visão bem mais intimista, em um longa em que a família, como o próprio subtítulo brasileiro ressalta, é o elemento principal. Sem nenhum dos recursos e tecnologias que Danny Ocean e seu grupo possui em “Onze Homens e Um Segredo”, a missão improvisada no qual o assalto do filme se torna garante boas risadas.
Depois de conquistar duas indicações no mesmo ano ao Oscar de Melhor Diretor por “Erin Brockovich” e “Traffic” (pelo qual ganhou), Steven Soderbergh nos trouxe em 2001 o remake de “Onze Homens e Um Segredo”, dando novos ares ao gênero de assalto no cinema. Com um elenco cheio de astros charmosos, fomos apresentados a um plano mirabolante, posto em prática por 11 pessoas experientes, com vários recursos e habilidades. Agora, em “Logan Lucky – Roubo em Família“, vemos um plano improvisado, posto em prática por dois irmãos sem experiência alguma, e um criminoso com habilidades duvidosas (embora o charme se mantenha).
Na trama do filme, Jimmy Logan (Channing Tatum, “Kingsman: O Círculo Dourado”) perde o emprego e se vê numa situação difícil, pois sente que está perdendo a filha, principalmente depois da ex-mulher informar sua vontade de se mudar para outra cidade e levar a pequena Sadie para longe. Assim, ele decide pedir a ajuda de seu irmão Clyde (Adam Driver, “Silêncio”), um veterano de guerra que perdeu parte do braço no Iraque, para roubar a Charlotte Motor Speedway, um complexo onde acontecem várias corridas famosas, como a NASCAR. Mas para isso, eles também vão precisar da ajuda de Joe Bang (Daniel Craig, “007 Contra Spectre”), fabricante de bombas caseiras, com experiência em arrombamento de cofres, mas que, vejam só, está na prisão.
Os elementos que garantem o filme ser espontaneamente engraçado já foram apresentados. Jimmy acha que seu plano é perfeito, afinal ele trabalhava nos túneis por baixo do complexo da Speedway, e o apresenta para um Clyde relutante com uma maquete feita de papelão, nada de plantas elaboradas em computadores. Já o irmão sabe que não tem como o plano dar certo, principalmente porque quando crianças, em seus eventuais roubos de lojas de conveniências de postos de gasolinas, sempre sobrava para ele. Tudo fica ainda mais complicado ao ter que lidar com a loucura de Joe Bang e com a imbecilidade dos outros dois irmãos Bang.
“Logan Lucky” é um filme de assalto, sim, entretanto sua essência está na família Logan, na relação entre os irmãos e irmã Mellie (Riley Keough, “Ao Cair da Noite”), no amor entre Jimmy e a filha, que participa de concursos de beleza infantis, mas também sabe os nomes de todas as ferramentas do pai, e na cultura de uma pequena cidade estadunidense, cuja população está mais preocupada em como trazer comida para casa do que com o que acontece com o resto do país.
Soderbergh acerta brilhantemente na escolha de elenco. O destaque vai para Daniel Craig cuja veia humorística vem à tona e surpreende um público acostumado com a seriedade do ator ao interpretar James Bond. Channing Tatum funciona na comédia – este é o gênero que o ator deveria explorar mais em sua carreira, tendo acertado em cheio também em “Anjos da Lei”. Adam Driver pode enganar com uma cara de rabugento, mas entrega um personagem doce e preocupado com a família, o que deixa o longa ainda mais apaixonante. Outra aparição digna de nota é a do comediante e ator Seth Macfarlane (“Ted 2”), responsável por fazer um personagem caricato na medida certa. O elenco também possui outras aparições de atores de renome que merecem ver seu rosto na tela sem que este texto estrague a surpresa.
“Logan Lucky”, no entanto, tem um problema comum em filmes de assalto. Sabe quando os “mocinhos” se encontram encurralados e você pensa “ah, agora eles vão se dar mal!”, mas então um artifício de roteiro deixa que eles saiam são e salvos da situação (é o chamado deus ex-machina)? Isso não falta em “Logan Lucky”, o que não seria tão ruim caso o filme não se estendesse por mais tempo do que o necessário, fazendo com que esses artifícios apareçam em grande número, principalmente durante o terceiro ato do longa.
Com um pano de fundo genuíno da vida de uma família do interior de West Virginia, “Logan Lucky” acerta tanto na comédia quanto no drama, inclusive oferecendo uma cena emocionante envolvendo a música “Take Me Home, Country Roads” (tornando-o o melhor filme do ano com o Channing Tatum em que essa música toca), e uma sequência hilária na prisão, sobrando piada até para George Martin, autor de “As Crônicas de Gelo e Fogo” (livros-base para “Game of Thrones“). Um filme que infelizmente não teve tanta atenção em sua exibição nos cinemas, certamente merece a assistida em um domingo à tarde com a família reunida.