Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A Morte Te Dá Parabéns! (2017): O primeiro dia do resto de sua vida

Nem sempre se levar a sério é a melhor opção para filmes. Principalmente para aqueles que querem flertar com gêneros distintos, como comédia e horror. Saber ser um piada é tão importante quanto saber contar uma piada.

As comédias adolescentes, ou teen movies, costumam oscilar entre filmes bobos, sem grande conteúdo a oferecer, e bons filmes, com análises interessantes sobre uma geração. Esse último grupo também consegue flertar com o poder da sugestão das boas obras do terror. As cenas finais dessas comédias adolescentes, frequentemente apresentam os protagonistas (normalmente um casal), que precisarão lidar com incertezas do futuro. Na cabeça de um jovem, isso pode soar verdadeiramente assustador.

Essa brincadeira do terror sugerido, funciona de forma reversa em “A Morte Te Dá Parabéns!”. O filme acompanha a jovem Tree (Jessica Rothe, de “La La Land: Cantando Estações”), uma universitária que acorda no quarto de um rapaz desconhecido. Sem saber como foi parar lá segue com sua vida, até que, quando está indo para a sua festa de aniversário é assassinada e acorda no mesmo quarto do início.

Dirigido por Christopher Landon (“Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi”), o filme usa o primeiro dia para apresentar a protagonista e apresentar elementos que poderão ser repetidos ao longo da obra, para facilitar a compreensão do que está acontecendo. Desde personagens caricatos, até situações improváveis. O início das manhãs de Tree serão exaustivamente reprisadas. Se por um lado faz sentido como uma forma simples para explicar o conceito do filme, por outro o excesso torna-se cansativo, além de tomar tempo de cena que poderia ser mais bem aproveitado.

Quanto ao estilo, é claramente uma sátira de “slasher movies”. Mas isso não torna o filme ruim. Pelo contrário, o filme se assume como uma comédia ainda no começo, rendendo até mesmo algumas boas piadas. Mas há uma ordem nas coisas. Não se levar a sério não quer dizer que o filme não sabe apresentar bons conceitos. Landon consegue comandar um primeiro ato que segue toda a lógica de filmes de terror. Brinca com clichês e, pela proposta do filme, permite exagerar algumas situações, como na cena do segundo assassinato.

Porém é com o segundo ato que o filme definitivamente se mostra como uma brincadeira. Numa mudança repentina, que altera fotografia e trilha sonora (há uma referência à trilha original de “Halloween”, tocada numa versão mais pop), passamos a acompanhar o tradicional teen movie, com uma universitária tentando resolver um problema, que apesar de fatal, não gera consequências tão severas. É com esse tipo de conceito que o filme consegue se destacar, mesmo sem ser algo original.

Contudo, o terceiro ato do filme se mostra essencialmente fraco. A resolução do filme, apresenta um tradicional vilão fantoche, para esconder a verdadeira mente por trás dos assassinatos. Porém o verdadeiro problema da solução está na motivação. O filme se baseia num conflito ruim com uma abordagem machista, tanto na evolução de Tree, como na motivação para os crimes. A partir do momento em que a consequência desta motivação é matar a mesma pessoa todos os dias, o filme se perde, e tem um final mediano.

De resto, é uma trama interessante. Um filme que consegue abordar a passagem para a vida adulta e tenta trazer a discussão sobre quem somos e o quão felizes com tal posição nós estamos. Uma espécie de metáfora ao fato de só conseguirmos seguir em frente em vida, a partir do momento que decidimos evoluir. Um filme que consegue brincar com gêneros distintos, e possui uma boa construção nos dois primeiros atos. Há alguns problemas no final, que podem causar incômodo em algumas pessoas. Mas a forma despretensiosa que o filme busca acaba amenizando um pouco os defeitos.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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