O desastroso filme do pássaro maluco de topete vermelho que ninguém pediu e que ele não merecia.
O personagem Pica-Pau, criado em 1940 pelo artista de Walt Lantz, é um ícone de diversas gerações e um dos desenhos animados mais famosos do mundo. Particularmente, na América Latina, ele é absurdamente querido e as reprises de suas animações são exibidas à exaustão na televisão. Então é claro que chegaria o dia em que alguém teria a “brilhante” ideia de fazer um filme sobre o pássaro, e assim nós “ganhamos” o novíssimo “Pica-Pau: O Filme“.
O nosso querido pássaro azul está lá numa boa, em sua floresta na divisa com o Canadá, até que uma família se muda para o seu habitat com o intuito de construir uma mansão horrível. Com suas artimanhas e maluquices, o Pica-Pau passa a atormentá-los para despejá-los dali, mas acaba se afeiçoando ao garoto Tommy Walters (Graham Verchere), que tem problemas com seu ganancioso pai Lance Walters (Timothy Omundson, da série “Supernatural”) e a jovem madrasta (Thaila Ayala, de “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”). Seguindo a “formulinha” de longas live-action com personagens principais em CGI, a trama do filme é sobre as desavenças familiares e a já manjada lição à ser aprendida, quase não deixando espaço para as peraltices do topetudo ruivo. É um enredo inteiramente infantil e previsível, que não pretende, em momento algum, desafiar a inteligência das crianças ou agradar de alguma forma os adultos que as levaram ao cinema.
Com piadas de cunho escatológico – pasmem, um personagem chega a comer as fezes do Pica-Pau! – o longa é uma sucessão de cenas pavorosas de dramas familiares intercalados com as poucas travessuras do topetudo ruivo. Para cada gosma jogada pelo pássaro na personagem da esforçada Thaila Ayala, existe uma discussão moral rasa sobre paternidade e defesa ambiental. E a cada risada característica do azulão, somos “presenteados” com uma pequena lição de moral muito mal interpretada.
Chega a ser até covardia falar sobre os aspectos técnicos do filme, porque praticamente inexistem qualidade neles. A direção de Alex Zamm (“Os Batutinhas: Uma Nova Aventura”) é banal – um exemplo dessa falta de visão do cineasta, é a construção de uma das piores cenas musicais da história do cinema, em que a imagem não se agrega ao som de jeito nenhum – e em consequência, as locações são pobres, a fotografia parece emulada de uma série de tv dos anos 80, as atuações soam exageradas e canastronas e a trilha sonora chega a ser miserável, não aproveitando em quase nada dos idílicos temas das animações clássicas. Porém, o que mais sobressai negativamente em todo o longa é a falta de qualidade da animação do Pica-Pau. Claramente sem orçamento para bons efeitos em CGI, a equipe de efeitos visuais falhou explicitamente desde a concepção e design do pássaro, até a sua movimentação, iluminação, fluidez e a interação dele com os outros personagens e cenários. Tudo soa absurdamente caseiro e falso, até mesmo para um hipotético padrão de filmes B.
Não existe muito a ser dito sobre “Pica-Pau: O Filme” na verdade. É um filme infantil de baixo orçamento, realizado com uma qualidade digna de (más) produções feitas para a tv americana, criado com foco no público da América Latina e especialmente o Brasil – não à toa foi escolhida uma atriz brasileira para protagonizá-lo! Há quem diga que um filme infantil não deveria ser criticado e que nós adultos não somos o público para estes filmes. Mas como bem disseram PH Santos e Jurandir Filho, os patriarcas do Cinema com Rapadura, em um vídeo para o Youtube sobre este mesmo longa: será que nossas crianças merecem estes filmes ruins que fazem rir apenas com piadas sobre flatulência e fezes jogadas nas pessoas?! E eu diria mais: será nossas crianças merecem assistir a filmes que nós mesmos não conseguimos tolerar até o final??