Enquanto as animações anteriores conseguiram dar uma passo à frente e tornar as peças de Lego divertidas para o cinema também, este filme pode ser encarado como um passo para trás. É como uma peça mau encaixada que faz a montagem toda parecer estranha.
Desde o lançamento de “Uma Aventura Lego” em 2014, o potencial criativo para utilizar os clássicos brinquedos em bons filmes foi bem utilizado. O tema, já bem aceito em videogames, conquistou também o público dos cinemas. Assim, buscou-se explorar as miniaturas de diversas formas. É claro que a variedade de personagens já apresentadas como Lego, somada aos direitos que a Warner Bros. possui no cinema, permitiram a utilização de diversas franquias. Mas o mérito estava muito mais na criatividade do que nas referências. Esse é justamente o mérito que falta ao “LEGO Ninjago: O Filme”.
Nesta aventura, os amigos Lloyd, Nya, Cole, Jay, Zane, Kai são adolescentes comuns, enfrentando os problemas diários na escola. O que ninguém sabe é que quando a sua ilha natal, Ninjago, está sendo ameaçada, eles assumem o manto de valentes guerreiros ninja. Porém Lloyd precisa lidar com o desafio de seu principal inimigo, o Lord Garmadon, ser também o seu pai.
Resumir “LEGO Ninjago: O Filme” como um problema de roteiro seria um argumento ao mesmo tempo exagerado e preguiçoso. Primeiro porque há qualidades, inclusive no roteiro. Segundo, e principalmente, porque os problemas são muito maiores que um roteiro fraco. A começar com a tripla direção (que não necessariamente seria um problema), assumida pelos estreantes Charlie Bean, Paul Fisher e Bob Logan, que muitas vezes parece não saber qual caminho seguir, principalmente durante as cenas de batalhas.
O filme busca, através de diversos subplots, criar uma narrativa de superação. Isso acontece com o grupo de ninjas (numa evidente referências aos Power Rangers) enfrentar desafios cada vez maiores, na tentativa do vilão conseguir dominar Ninjago, na relação de Lloyd com a cidade que o renega por ser filho de Garmadon. Além de uma referência à “Star Wars” na relação pai e filho que o filme busca desenvolver. Com tantas tramas menores, o enredo principal se perde. No final, parece uma somatória de curtas que tentam formar uma história, mas a execução torna a montagem confusa. Algo como um Lego mal montado (com o perdão da piada).
Lord Garmadon não consegue ser apresentado como um vilão cujas motivações justificam seus atos. As diversas tentativas de redenção o diminuem como personagem. Sua presença acaba soando forçada, e em diversos momentos é apenas uma justificativa para fazer a trama seguir em frente sem muito propósito. A falta de criatividade no uso de Garmadon como vilão torna o filme mais cansativo. No final fica a impressão de que boa parte da jornada poderia ter sido evitada sem uma perda significativa para a trama.
Ao contrário, Mestre Wu (dublado por Jackie Chan, “Kung Fu Panda 3”) é a personagem mais interessante deste filme. Sua participação é discreta e consegue fazer a trama seguir de forma inteligente. As lacunas que Wu cria são muito bem preenchidas ao longo do filme, o que torna sua presença ainda mais interessante, sempre levantando perguntas, o que funciona muito bem pela imagem de mestre que Wu carrega.
No restante, temos um filme com méritos aceitáveis, piadas que oscilam entre boas e previsíveis e uma confusão sem muita explicação. As personagens secundárias tem um desenvolvimento ofuscado pela tentativa forçada de criar uma interação entre Lord e Lloyd Garmadon. O filme ainda se perde ao apresentar uma (previsível) arma “super poderosa”, que tem como principal finalidade prolongar ainda mais o tempo do filme.
Sem conseguir atingir o mesmo nível de seus antecessores, “LEGO Ninjago: O Filme” é uma mistura de momento divertidos, com um roteiro simples e previsível e algumas piadas que nem sempre funcionam. Na tentativa de atingir tanto um público mais infantil quanto os mais velhos, o filme se perde no óbvio. É um passo para trás na tentativa de popularizar as miniaturas no cinema.