O roteiro do filme é uma somatória de mais do mesmo dos filmes de ação. São poucos os seus atrativos.
“Esse filme parece aquele outro…”. Não é apenas parecido: “O Assassino: O Primeiro Alvo” é uma reciclagem de tudo que já foi visto, sem modificações substanciais. O filme é genérico até no nome, sem a desculpa da versão brasileira, pois o nome original (“American Assassin”) é tão ruim quanto. Cinco minutos depois que acaba, já pode ser esquecido, ainda que não seja de má qualidade.
No longa, o protagonista é Mitch Rapp (Dylan O’Brien, de “Maze Runner: Prova de Fogo”), um jovem cuja vida muda completamente após sobreviver a um ataque terrorista em que sua noiva morre diante de seus olhos. Decidido a iniciar uma empreitada individual contra o terrorismo, ele acaba sendo recrutado pela CIA. Antes, porém, ele precisa passar pelo treinamento de Stan Hurley (Michael Keaton, de “Fome de Poder”), um veterano que não simpatiza com o perfil psicológico do jovem.
Um jovem recruta indisciplinado, mas promissor; um treinador rígido que exige provas cruéis; luta bem versus mal; agentes da CIA salvando o mundo. É fácil perceber que o roteiro é uma somatória de mais do mesmo dos filmes de ação. Depois do trauma, Mitch se torna um jovem obsessivo (em relação ao terrorismo) e revoltado, em busca de uma forma de descontar a própria raiva. Aparentemente, em dezoito meses, ele aprende luta, tiro, idioma árabe e religião. Como a CIA perderia alguém com essa capacidade? A rebeldia de Mitch seria um elemento de aleatoriedade do plot, porém, até isso acaba sendo previsível, pois é óbvio que ele será sempre desobediente. Dylan O’Brien é convincente no amargor da personagem; na tristeza, a expressão monotônica transmite a dificuldade dramática do ator.
A CIA precisa de agentes gabaritados para salvar o mundo, nesse caso, o perfil ideal é de jovens raivosos que já exerçam uma função de “vigilante”. Como eles não estão prontos, carecem de um treino especial com um verdadeiro carrasco, um treinamento de choque orientado por um sádico. Hurley tem o know-how que precisa transmitir aos novatos, todavia, é o arquétipo do professor linha dura que busca o extremo para “cutucar a ferida” do aluno. A personagem é a encarnação do sadismo; ironicamente, abraça o masoquismo em um plot twist pessoal, momento em que Michael Keaton sai do piloto automático e justifica a credibilidade que tem enquanto ator.
O roteiro é maniqueísta, mas não na sua plenitude, pois há uma personagem que mostra que, por mais incrível e inimaginável que possa parecer, nem todo iraniano é mau. Ainda mais surpreendente: o antagonista vivido por Taylor Kitsch (“John Carter: Entre Dois Mundos”) prova que até nos EUA existem vilões. Ele está envolvido em uma questão política que é uma das engrenagens narrativas, porém, essa questão é um verdadeiro emaranhado que só fica claro mais à frente.
Michael Cuesta (“O Mensageiro”) ainda tem um currículo modesto, entretanto, considerando esse fator, sua direção é de bom nível. Na ação, Cuesta faz o básico: lutas, tiros, música de ação, coreografia padrão, nada novo. Eventualmente, a câmera participa da cena, com água ou sangue sujando a tela. O prólogo é o ápice da linguagem cinematográfica da película, usando a técnica de found footage – que, inteligentemente, tem serventia para um momento posterior (ou seja, não é à toa) – e filmando em plano-sequência um evento de difícil execução. O CGI fajuto das cenas finais se deve, provavelmente, à limitação do orçamento.
Há no longa uma fixação pelo assassinato que se torna cansativa. Todos os problemas do mundo são resolvidos através da morte de alguém. Outra insistência reside no mantra de Hurley em “não levar para o pessoal”, o que ele não segue, ensinando para seus pupilos, que também não seguem. A coerência passa longe.
Se até o nome é genérico, difícil esperar originalidade da produção. Aliás, são poucos seus atrativos. Evidentemente, faz número no currículo dos envolvidos, mas não vai ser motivo de orgulho para eles – e nem de recordação do público.