Será que precisávamos de um longa sobre a Operação Lava-jato enquanto ela ainda acontece?! O filme escolhe rapidamente o seu lado.
Não há o que refutar, “Polícia Federal: A Lei é Para Todos”, apesar da negativa de seu diretor Marcelo Antunez (“Um Suburbano Sortudo”), é um filme político sim. É um longa que escolhe um lado e que utiliza todos os artifícios estéticos e narrativos para defender a sua posição. Contanto, fazer um filme político não é errado, irresponsável ou ilegal, vários longas importantes da história do cinema já fizeram isso, porém travesti-lo de longa ficcional, com alto foco em ação e não sendo claro quantos aos seus objetivos, isso pode sim ser considerado errado.
A trama fala sobre a operação lava-jato e seus desdobramentos, desde a apreensão de um caminhão repleto de drogas, à ligação dessa carga com doleiros já conhecidos da justiça e, consequentemente, à uma das maiores organizações criminosas que já foram deflagradas no mundo, com a participação de executivos de empresas de construção, estatais e políticos de praticamente todos os partidos. Um dos grandes deméritos da fita é que o foco da narrativa recai totalmente nos policiais federais integrantes da força tarefa que investiga, planeja e executa as fases da operação; no filme, são personagens baseados nos profissionais reais.
Existe um cuidado muito maior no desenvolvimento deste núcleo, afinal sabemos muito mais sobre a vida pessoal deles e de suas enormes provações para executar seus objetivos profissionais, em detrimento dos individuais. Um exemplo é o policial Julio Cesar (Bruce Gomlevsky, de “Elis”) que, além de investigar e coordenar as ações do grupo na operação, ainda precisa cuidar de sua mãe doente e também argumentar ideologicamente com seu pai, quem possui uma viés político “contrário” às suas ações na polícia. Entretanto, o núcleo dos “investigados” fica totalmente relegado e todos são retratados como meros arqui-inimigos de cartoon barato. Chega a ser hilária a construção de um grande vilão, uma espécie de “Darth Vader Tupiniquim”, com a figura controversa do ex-presidente Lula. Até as já conhecidas e inconvenientes piadas do velho político, aqui são retratadas como esporros e agressões perigosas aos arautos da lei.
Para nos levar no meandro dessa complicada empreitada e também para retratar personagens que nós conhecemos muito bem, já que estão por aí a todo momento nos noticiários brasileiros, era preciso recrutar um bom elenco que conseguisse suprir essa carga dramática e que ainda pudesse trazer uma certa autenticidade dos seus pares “reais” para a tela, e nesse quesito o filme também falha. Somente Antonio Calloni (“Faroeste Caboclo”) consegue dar alguma alguma dignidade ao seu personagem, o Ivan Romano, chefe da operação. O resto das interpretações beiram o ridículo… beiram não, porque o desempenho do grande ator Ary Fontoura (“Meu Amigo Hindu”) pode facilmente ser colocado no rol das piores retratações da história do cinema, como, mais um vez, o ex-presidente Lula. Outro que se destaca negativamente é o também já citado Bruce Gomlevsky, com uma atuação visivelmente acima do tom e, já que seu personagem é o mais desenvolvido, fica ainda mais claro o overacting sumário. Principalmente nas cenas de destempero – quase todas!
Trazendo algumas boas composições de cena e até uma bem vinda condensação da trama rocambolesca da operação real, que nos traduz com simplicidade e agilidade as vicissitudes das maracutaias empresariais e políticas do nosso país, Antunez se esforça, mas não consegue se desvencilhar dos chavões. Ele tenta, a todo momento, ostentar um suspense forçado e artificial, como na cena em que os policiais adentram à casa de um empresário, naquela hora uma grande ameaça. A cena é acompanhada de trilha aflitiva, chata e invasiva, até para acompanhar a captura de um mero telefone celular que “repousa” no banheiro.
Obstante de toda a polêmica gerada por retratar algo que ainda está ocorrendo e mesmo, relutantemente, não levando em consideração toda a carga político-partidária que o longa traz, “Polícia Federal:A Lei é Para Todos” ainda não se sustenta como filme. Não diverte, não informa e não surpreende. Agora, optando por mostrar tudo por um única orientação e não admitindo isso, os produtores e os “investidores secretos” do longa podem confundir o espectador, que consequentemente pode entender a história do filme como a verdade absoluta. E não é uma cena pós-créditos, ou um discurso pronto para entrevistas que irá mudar isso.