Com um roteiro frágil ao apresentar falhas e conveniências, um dos pontos altos do longa é seu realismo visual e sonoro. Merece elogios a atuação de Aaron Taylor-Johnson, que carrega o filme nas costas. No mais, o suspense não se destaca em nada.
De um filme de guerra é comum se esperar bastante ação. Não é esse o caso de “Na Mira do Atirador”, um suspense que não se destaca em nada.
O contexto do longa é o fim da guerra no Iraque, em 2007, momento em que o Presidente dos EUA (George W. Bush), declarou a vitória do seu país. Não obstante, dois sargentos estão encurralados: camuflados, observam há mais de vinte horas um local com vários corpos mortos ao redor de um pequeno muro. Não sabem se já é seguro sair, se há um atirador por perto e sequer o que há atrás do muro.
O muro acaba sendo praticamente uma personagem na narrativa – aliás, o nome original da película é “The Wall”, que significa “o muro”. É importante no início, pois é elemento do argumento do script: um dos motivos de ficarem tanto tempo no mesmo local é o fato de não saberem o que há por detrás do muro (cogitam vários “Hadjis”). No desenvolvimento, está presente em quase toda a duração. E, no final, é elemento essencial para o desfecho – sobre esse, cabe mencionar a surpresa que gera, principalmente pela mensagem sugestiva, em uma visão macro (dizer mais que isso significaria spoiler). Em síntese, é um final bem interessante.
No elenco, o principal nome é Aaron Taylor-Johnson (“Godzilla”) como o Sargento Isaac, praticamente carregando o filme nas costas. Isso ocorre porque sua missão é deveras complicada: na maior parte do tempo, ele é o único ator visto em cena, fazendo com que ele precise atrair para si os holofotes e convencer na personagem. É sua segunda interpretação seguida (depois de “Animais Noturnos”, muito superior, é verdade, mas também porque este é muito superior) de bom nível, deixando a esperança que Taylor-Johnson é mais que um artista que se enquadra no padrão estético hollywoodiano. Em “Na Mira do Atirador”, ele é convincente na dor sofrida e na raiva sentida, não podendo fazer melhor porque o roteiro não lhe permite – na maioria das falas, a personalidade da personagem é exposta de maneira fragmentada, muito insatisfatória. John Cena (“Busca Explosiva”) também está no elenco, mas sua participação é pouco significativa; sua interpretação, insignificante.
O diretor do filme é Doug Liman, que tem uma carreira com altos e baixos: “A Identidade Bourne” (2002), “Sr. e Sra. Smith” (2005), “Jumper” (2008) e “No Limite do Amanhã” (2014), dentre outros. “The Wall” está em um meio-termo, não tanto por sua responsabilidade. Os enquadramentos são adequados e, quando uma personagem está enxergando através de uma mira (ou telescópio), a tela muda para câmera subjetiva, simulando a mesma visão. Há um realismo visual e sonoro que é um dos pontos altos da película: visual, ao expressar a aridez do campo de batalha iraquiano, e no despudor dos tiros e ferimentos; sonoro, na competente edição de som que se preocupa até mesmo com os sons intradiegéticos mais suaves, como o sopro do vento.
Entretanto, Liman tem dificuldade em equilibrar a tensão e a monotonia que o roteiro gera. Surpreendentemente, o plot tem um viés bastante teatral, vez que é repleto de diálogos – muitos deles vazios. Os que não são vazios trazem subtextos inteligentes, com questionamentos pertinentes: quem é o verdadeiro terrorista? O que significa vencer a guerra? Pode a criatura se voltar contra o criador? Contudo, são reflexões enterradas na areia com rapidez, já que o texto é extremamente raso ao abordá-las.
Outro grande problema do roteiro são suas falhas e conveniências. Como pode um soldado treinado se desesperar e correr para um local onde certamente será alvo de um atirador, apenas para salvar um colega baleado? Não seria mais inteligente tentar encontrar o atirador antes, em uma posição segura, para depois ajudar o colega? Mais: por que o telescópio e o rádio insistem em funcionar somente em momentos estratégicos da trama? São fragilidades do roteiro que tornam a narrativa inverossímil, entrando em conflito com o realismo da direção.
Ainda assim, “Na Mira do Atirador” tem alguns (poucos) momentos autênticos de tensão e certamente agradará os espectadores fascinados por filmes com ambientação bélica em geral. Para o público em geral, garantidamente é um suspense qualquer.