As guerras traçadas pelos Estados Unidos no oriente médio (tanto Iraque quanto Afeganistão) têm revelado histórias poderosas para filmes. Entretanto, muitas destas passam a ser só mais uma história.
Dirigido pelo brasileiro Fernando Coimbra (“O Lobo atrás da Porta”), contando com Henry Cavill (“Batman Vs Superman – A Origem da Justiça“) e Nicholas Hoult (“Mad Max – Estrada da Fúria”) como os nomes mais conhecidos no elenco, “Castelo de Areia” é um filme que chama atenção. Além dos nomes, tão logo que embarcamos no primeiro ato, a premissa apresentada também colabora: um grupo de soldados começa a ser bem sucedido em missões na Guerra do Iraque e recebe uma última tarefa, a de reestabelecer o fluxo de água em uma região não controlada pelos Estados Unidos.
Com essa missão sendo aceita, embarcamos no que o filme tem de melhor, no caso, a apresentação do dia-a-dia comum do soldado naquela guerra. Fernando Coimbra é preciso em mostrar os detalhes desse combate, desde o soldado escovando os dentes com os dedos (muito relatado nos livros escritos por ex-combatentes), até a retirada da porta do blindado, quando eles vão para uma missão que necessita agilidade no desembarque. Tais pormenores são propositalmente mostrados para valorizar todo o trabalho de pesquisa em torno do filme. A agonia do soldado diante da não-guerra, do inimigo invisível e as angústias em não conseguir se impor diante de outra cultura também são muito bem apresentadas.
Por outro lado, esse apuro não aparece em aspectos maiores. Numa determinada sequência, os soldados são colocados para fazer um bloqueio enquanto outro grupamento executa uma investida urbana. A ação é extremamente atrapalhada, confusa e rasa. Os americanos atiram em nada, o inimigo não é mostrado, e comete-se um erro tático ao sequer mostrar, durante a retirada, que o grupamento de avanço cortou o bloqueio e por este motivo, segue na debandada. O mesmo não acontece na primeira sequência de ação do filme – de longe a melhor – onde a direção de Coimbra é bem segura e a noção espacial do embate faz completo sentido.
Nicholas Hoult vive o soldado Matt Ocre, personagem central do roteiro de Chris Roessner (estreante em longa-metragem). Muito exigido pela história, o personagem é carismático e eficiente em demonstrar esse tal cotidiano. A confusão pela qual ele passa nos segura, por mais que o filme seja instável em vários outros termos. O Capitão Syverson (Henry Cavill) dá fôlego à trama, mas não tem muito tempo de tela. Inclusive, todos os outros personagens além de Matt, com exceção do Sgt. Harper (Logan Marshall-Green, de “Snowden: Herói ou Traidor “), entram e saem da história quase sem peso algum. Mortes não são sentidas e promessas de ótimos personagens são descartadas facilmente.
O exagerado uso de fundo verde atrapalha a imersão. Os atores são sempre jogados em primeiro plano e a paisagem aparece adicionada em pós-produção em grande parte do longa. Não dá para sentir peso algum de locação, ocasionando a diminuição acentuada do valor de produção. A fotografia é limitadíssima também, não conseguindo atingir sucesso ao explorar o calor do local. A paleta de cores, apesar dos tons de amarelo como primário, não é saturada o suficiente para nos colocar naquele ambiente. A saturação das cores a noite (quando é frio naquela região) e de dia é literalmente a mesma, só mudando a iluminação de set.
Diante de várias limitações, sobretudo orçamento (característica que se repetem nos longas produzidos pela Netflix), dá pra perceber que Fernando Coimbra e equipe fizeram, na maioria das cenas, o máximo que estava a seu alcance. No final, “Castelo de Areia” aparenta ser uma produção feita mais de soluções em cima de problemas impostos, do que realmente de escolhas autorais; o que diminui o peso dos erros.
Não é um filme descartável, longe disso, mas falta muita consistência nos aspectos mais básicos de cinematografia de guerra.