Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 13 de abril de 2017

Velozes e Furiosos 8 (2017): nova trilogia da franquia tem início divertido

Sem muitas preocupações ou pretenções além do divertimento do público, o novo capítulo da série "Velozes" é um dos melhores espetáculos escapistas que o cinema pode proporcionar.

É uma nova era para os fãs de “Velozes e Furiosos”. Após o fim do sétimo filme da série, com a saída de Paul Walker e um discurso emocionante de Dominic Toretto que se confundia com o de seu intérprete, Vin Diesel, dois dos personagens do filme original se despediram da franquia, o casal Brian (Walker) e Mia (Jordana Brewster).

Mas a aventura não pode parar – especialmente considerando que esta é a propriedade mais valiosa da Universal. Chega então este “Velozes e Furiosos 8”, agora com F. Gary Gray na direção, vindo do elogiado “Straight Outta Compton“. Gray relembra aqui um dos seus primeiros trabalhos como diretor, o divertido e eficiente “Uma Saída de Mestre”, do qual trouxe a incrível Charlize Theron (de “Mad Max – Estrada da Fúria”).

Reencontramos Dom Toretto e sua amada Letty (novamente Michelle Rodriguez) em Cuba, com a dupla aproveitando os ares caribenhos e arrumando um ou dois duelos automobilísticos. Quando o Agente Hobbs (Dwayne Johnson, de “Um Espião e Meio”) precisa da ajuda do time de Dom para recuperar uma arma que caiu nas mãos erradas, Dom trai sua equipe e entrega a arma para a cyberterrorista Cipher (Theron).

Reunidos pelo misterioso Sr. Ninguém (Kurt Russell, de “Os Oito Odiados”, a um tapa-olha do Snake Plissken de virar o Nick Fury), a Família Velozes precisa deter Cipher, descobrir o motivo da traição de Dom e salvar o mundo, contando agora com os reforços do novato certinho Ninguenzinho (Scott Eastwood, de “Esquadrão Suicida”, meio que fazendo as vezes de Paul Walker) e do vilão do capítulo anterior, Deckard Shawn (Jason Statham).

A química do elenco continua sendo um dos grandes atrativos da franquia, especialmente quando se trata de um grupo que está junto há tanto tempo. Diesel, Johnson, Rodriguez, Tyrese Gibson (o “piadista” Roman, ainda uma das coisas mais irritantes da franquia), Ludacris e Nathalie Emmanuel (os gênios Tej e Ramsey) estão tão sintonizados uns nos outros que parece tornar mais natural as sandices que o roteirista Chris Morgan, também um veterano da franquia, coloca no guião.

Também ajuda o fato da direção leve (sem trocadilho) de Gray saber lidar com grandes elencos e extrair de cada um dos atores exatamente o que o filme precisa para não perder movimento. São estruturados então pequenos núcleos, dando papéis a todos os personagens, com a relação Dom/Letty, a rivalidade Hobbs/Deckard, o triângulo quase amoroso Roman/Ramsey/Tej, a relação de aprendiz entre Ninguém e Ninguenzinho – embora incomode um pouco quão “fácil” os atos pretéritos de Deckard são deixados de lado.

Não esqueçamos a ala dos vilões, onde Charlize Theron se diverte horrores criando a psicopata Cipher ao lado de seu fiel assistente Rhodes (Kristofer Hivju, de “Game of Thrones”), em uma dinâmica que lembra a dos antagonistas dos filmes clássicos de 007 e seus capangas principais. Theron, aliás, se mostra como a mais eficiente das ameaças apresentadas até aqui, não só por conta do perigo que representa, mas por conta da sua frieza em executar quem quer que seja para alcançar seus objetivos, sendo uma pena que seu plano final seja tão clichê.

Essa mudança na cadeira do diretor também ajuda na dinâmica de equipe, com o grupo gravitando ao redor de Hobbs dada a traição de Toretto. Também foi acertada a decisão de não demorar muito para revelar ao espectador os motivos da ida de Dom para o lado negro, o que acontece já no final do primeiro ato, permitindo que o público compreenda melhor o arco dramático daquele que é o “dono” da franquia.

Se digo “dono” e não “protagonista” é porque esse papel é colocado em cada vez mais insanas cenas de ação da franquia, algo que já é uma marca registrada desta. Apesar de termos uma pequena volta ao passado com um racha no prólogo do longa, o que se segue depois é uma sucessão de perseguições malucas, com direito a duelos no gelo envolvendo tanques e submarinos e uma horda de carros-zumbis, no melhor estilo “Invasão Zumbi” (Sang-ho Yeon, 2016), com automóveis hackeados ao invés de mortos-vivos no meio de Nova York, em uma das setpieces mais deliciosamente exageradas da franquia até aqui.

Sem medo de abraçar o ridículo – vide uma ótima cena de ação no avião, envolvendo um dos momentos mais “fofos” da séries -, o ritmo cartunesco deste oitavo “Velozes” torna alguns dos seus pecadilhos (como o discurso furado de Toretto em Cuba ou alguns CGIs com texturas mal renderizadas, como o do plano que encerra o filme) mais do que perdoáveis. Diabos, só a cena com um submarino nuclear perseguindo carros no meio do inverno russo já faz deste um dos melhores espetáculos escapistas do ano!

P.s.: Não recomendo assistir o longa em 3D. Apesar da fotografia colorida não ser afetada pelos óculos, nenhuma cena do filme faz uso real da tecnologia.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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