Fatalmente, o drama de tribunal cairá no esquecimento. É o que realmente merece, pois o filme é muito fraco.
Um crime para ser julgado, cujas circunstâncias são nebulosas. Uma vítima com desvio de caráter, um ofensor calado, uma mãe preocupada, um advogado dedicado. Nada original? Bom se fosse esse o único defeito de “Versões de um Crime”.
O longa tem por personagem principal Ramsey (Keanu Reeves, “De Volta ao Jogo“), advogado cujo desafio é livrar o adolescente Mike (Gabriel Basso, “Super 8“) de um veredicto condenatório. Tarefa hercúlea, pois o garoto recusa-se a falar (qualquer coisa, com qualquer pessoa) após o evento. O crime teria sido o homicídio do seu pai, contudo, tanto Mike quanto sua mãe Loretta (Renée Zellweger, “O Bebê de Bridget Jones“) escondem a exatidão dos fatos.
Ou seja, um drama de tribunal – que se passa quase que na íntegra dentro da corte – cujo desafio é descobrir o que realmente aconteceu. A trama vai abraçando tons cada vez mais sombrios e um plot point (não chega a ser twist, pois apenas amplifica o próprio caminhar do plot) surpreende, não se pode negar. Contudo, a partir desse momento, o roteiro se torna previsível, seguindo-se reviravoltas que se tornam até mesmo cansativas. O resultado é que o desfecho, pensado para ser arrebatador, é aceito com indiferença. Claro, as personagens são tão insossas que não há empatia por parte do espectador.
A direção de Courtney Hunt (“Rio Congelado“) não é capaz de elevar o nível do roteiro, fazendo o básico no que lhe cabe. Assim, o clímax não tem emoção – assim como a maior parte da película. O elenco não ajuda, começando por Reeves, que nunca foi um bom ator e agora interpreta (novamente mal) mais um papel ruim. Gugu Mbatha-Raw (“A Bela e a Fera” de 2017) vive Janelle, advogada cujo arco dramático pessoal é meramente mencionado, todavia, nunca aprofundado – uma clara falha no texto. A atriz fica apagada até mesmo quando assume os holofotes por alguns minutos. Isto é, mesmo quando ela deve crescer no filme em razão das circunstâncias do roteiro, ela não consegue por vários motivos (um deles, o próprio roteiro). Renée Zellweger é um alento na quesito: ao contrário de Mbatha-Raw, brilha quando necessário, em uma (infelizmente a única) cena dramática que lhe exigiu talento, o que ela já provou ter. Zellweger está envelhecida e bem magra, com dicção que internaliza as palavras (“fala para dentro”), usando um pingente discreto que simboliza a sua introspecção. Se tivesse maior espaço, talvez melhorasse o filme como um todo.
Contudo, o problema mesmo reside no roteiro, que é completamente blasé, embora o argumento gere interesse apriorístico (assistindo à fita, vem uma avalanche de desinteresse). Janelle é personagem que seria, como dito, fonte fácil de subtramas, o que não ocorre para dar exclusividade para a trama principal (nesse caso, desnecessário sugerir novas camadas). A temática do envolvimento emotivo com a causa está lá, todavia, deveras superficial. Mesmo Ramsey tem um arco dramático menor cujo aprofundamento é raso como um pires – exceto no terceiro ato, causando indiferença. De virtude, a contraposição entre os fatos e o que é dito no tribunal: a montagem intercala o relato testemunhal falso com imagens (em flashback) do que realmente ocorreu, ensejando o questionamento acerca da credibilidade dos depoimentos judiciais.
Pensar que é mais um filme para juristas, que interessa apenas a esse tipo de público é um equívoco. É um longa que não serve para nenhum público com senso crítico. É apenas mais um filme muito fraco que, embora não chegue ao nível (de má-qualidade) de um “Cinquenta Tons”, fatalmente – o trocadilho não é proposital – cairá no esquecimento.