John Wick está de volta em filme de ação competente e divertido, que demonstra que não é preciso "inventar a roda" para satisfazer o público.
Em 2014, um filme estreou nos cinemas de fininho, sem fazer qualquer alarde, sem montanhas de dinheiro em marketing e foi ganhando fama e admiradores, principalmente por conta do efeito “boca a boca”. “De Volta ao Jogo” era este longa de ação modesto, que não possuía outra intenção, que não fosse entreter o seu expectador. Com uma trama simples, o nosso herói, de renome absurdo, pratica uma vingança sanguinária àqueles que mataram seu cãozinho e roubaram seu carro de estimação. Só isso! Corta para 2017. Com o sucesso do filme anterior, o astro Keanu Reeves (“O Homem do Tai Chi”) não pensou duas vezes e voltou a interpretar o assassino profissional mais temido do mundo em “John Wick – Um Novo Dia para Matar“.
Na simples e ao mesmo tempo rocambolesca trama, a vingança de John Wick continua no mesmo ponto onde parou no primeiro filme. Logo no começo, já temos uma cena de perseguição incrível em Nova York, onde John Wick persegue incansavelmente um motoqueiro, apenas para lhe roubar uma chave que o levará para seu precioso Ford Mustang 1967. Em posse do carro, potencialmente destruído na fuga – mas que se dane! John Wick só queria seu precioso de volta!! – ele volta para seu luxuoso lar em busca de paz e sossego. Mas não se passa nem um dia inteiro, e um filhinho de papai da máfia italiana (Riccardo Scamarcio, de “Ninguém é Salvo Sozinho”) aparece para lhe cobrar uma “promissória” de sangue, uma dívida que John Wick só poderia pagar com o sangue de alguém. Ao recusar a “oferta”, o mafioso explode a casa do anti-herói e com mais essa “bronca” nas costas, o incansável John Wick fará de tudo para liquidar sua dívida e ao mesmo tempo, praticar mais uma vez a sua boa e velha vingança!
É necessário dizer que o mundo de John Wick não é o nosso mundo real. As nossas regras chatas e convencionais não se aplicam na realidade dele. No universo de John Wick, os lugares por onde ele passa sempre falam com ele ou dele, como na cena em que ele imobiliza um de seus infinitos algozes e os auto-falantes do metrô avisam que ele chegou ao fim da linha. Nessa dimensão paralela alucinada e perigosa, todas as pessoas são potenciais assassinas profissionais, as coroações de chefes da máfia são realizadas em uma espécie de festa rave em ruínas romanas, hotéis de luxo são apenas fachadas de abrigos seguros para matadores ilustres – com direito a sommelier de armas e alfaiate de ternos à prova de balas – e existe um clã de mendigos profissionais, que monitoram toda a cidade através de seus trapos/disfarces e carrinhos de supermercado. Levando em conta todos estes aspectos e classificando o filme como uma fantasia de ação, este segundo longa de John Wick é a mais pura diversão e deleite visual.
Com uma coreografia perfeita de lutas e cenas de ação de “entortar os parafusos”, o diretor Chad Stahelski – que vejam só, foi o dublê de Keanu Reeves desde “Caçadores de Emoção” e também em “Matrix” – comanda muito bem essa montanha russa dinâmica. Ele não picota as cenas como vemos nos filmes de hoje em dia e mantém uma certa aura “anos 90” no longa. Outro acerto do diretor e também do roteirista Derek Kolstad – que também roteirizou o primeiro longa – é o tom leve que eles imprimem na obra, colocando frases divertidas em letreiros gigantes na tela e principalmente com a brincadeira que eles fazem com a persona John Wick, que já era extremamente divinizado no primeiro filme e que aqui virou até uma piada que permeia toda a história. Todos que ouvem o nome de John Wick, mudam suas feições imediatamente e entram em um cômico estado de pânico. É uma ótima sacada, já que o personagem, apesar de ser um matador de primeira – eu cheguei perder a conta de quantas pessoas ele mata no filme lá pelo número 100!! – não chega a ser tão intocável quanto um Chuck Norris da vida!! Ele até que apanha um pouco e chega até mesmo a sagrar em alguns momentos.
Keanu Reeves está absolutamente impagável nessa sua volta como John Wick. Ele demonstra aquela velha falta de expressão que lhe é característica, porém, mantendo seu charme e carisma peculiar. Porém, ele se supera mesmo, e leva o público às lágrimas do riso, quando proclama algumas das mais lindas frases de efeito, nas mais diversas línguas do mundo – até em linguagem de sinais!! – e principalmente, quando faz a sua impagável cara de mau. É bastante singular e engraçada a situação em que seu John Wick se encontra, porque parece que nada ali é levado a sério. Os personagens à sua volta passam todo o tempo soltando piadinhas e olhares irônicos pra ele, e somente Reeves permanece austero e compenetrado. Quando o chefão dos mendigos, na pessoa de Laurence Fishburne (“Passageiros”), o eterno Morpheus, dá o ar de sua graça e os dois se encontram, o que se vê é praticamente uma explosão de encantamento nostálgico, com os dois praticamente interpretando seus velhos papéis do icônico “Matrix”.
“John Wick – Um Novo Dia para Matar” é um filme que abraça a brincadeira e foi feito apenas com o intuito de divertir. Acertando em cheio em seu objetivo, utilizando poucos efeitos em CGI, abusando da porradaria e de tiroteios pra lá insólitos – o da estação, no meio de uma multidão e usando silenciadores, já nasce lendária – o longa não foi feito para revolucionar o gênero ou influenciar uma geração. Seu efeito é sentido na sala de cinema e se mantém, no máximo, por algumas ótimas horas empolgadas. O que fica, além das boas lembranças, é a exaltação soberba do magnânimo e excelentíssimo John Wick… ou você acha que eu repeti o nome dele por todo este texto em vão?!