Um filme que traz de volta o espírito do clássico oitentista e tenta se encaixar no cenário do humor atual, apostando sempre no carisma de seus personagens já marcantes.
Realizado pouco mais de três décadas do longa original, a elogiada adaptação do musical “Os Saltimbancos Trapalhões” (1981), este “Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood” vem sem nenhuma grande pretensão e consegue ser eficiente dentro da proposta empreendida. Ainda que o time oficial esteja “desfalcado” e as estrelas restantes já demonstrem sinais de cansaço decorrente à idade, o caso de Renato Aragão e Dedé Santana, as gags cômicas recicladas e as muitas caras e bocas trazem, além de uma boa dose de nostalgia, a deliciosa sensação de rir com o humor digamos mais simples.
A trama, de fato nada surpreendente, é interessante por não deixar de lado a origem circense do grupo, bem como fala a respeito das leis atuais relacionadas ao uso de animais nos espetáculos e as dificuldades que a mídia especifica tem para se manter viva no mercado. Tudo contado pelo cineasta João Daniel Tikhomiroff de maneira orgânica, que sabe o que tem em mãos e não ultrapassa o limite físico e artístico da equipe – ainda que se observe uma rigidez cênica no que se refere a cenário ou colocação de atores. Fica claro que Tikhomiroff sempre opta pelo caminho mais fácil, e seu objetivo não é inventar a roda.
Talvez as piadas fora-de-validade possam soar deslocadas e causar certa estranheza por parte do público incialmente, mas sacadas como Vin Gasolina, Dan Stulbach interpretando Tom Hanks e as pegadinhas de Didi em cima de Dedé fazem jus ao estilo dos Trapalhões e divertem a plateia. O elenco de apoio formado por Letícia Colin, Rafael Vitti, Livian Aragão, Emílio Dantas, Alinne Moraes, Marcos Veras, Maria Clara Gueiros, Nelson Freitas e Marcos Frota transmite muita energia, todos parecem respeitar muito o material em questão e estão bem conectados.
E se existe um aspecto que merece ser ovacionado aqui são os números musicais comandados por Claudio Botelho e Charles Möeller, que utilizam bem os seus protagonistas, com coreografias que estão acostumados a realizar, e inteligentemente inserem corais durante as apresentações, dando um ar de grandeza aos números e causando catarse no público. Tal como a escolha das canções são pontuais, ainda que não tenham a mesma excelência do clássico anterior.
Então, como se pode notar, “Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood” não é nem de longe a ofensa que muitos previam, mas sim uma celebração gratificante que nos remete instantaneamente a uma época em que o humor simplório reinava e o circo era a janela para um mundo mágico. Didi e sua turma são figuras que estão eternizadas não apenas na história do cinema brasileiro, mas também na cultura popular do país. Ficamos então na torcida para que voltem e façam novas obras seguindo o estilo, a sétima arte certamente agradece.