Confirmando a indústria brasileira de cinema de comédia como uma grande 'desperdiçadora' de talentos, aqui nada parece fazer sentido; desde sua concepção primária bizarra, passando por escolhas narrativas duvidosas e chegando até um resultado final abaixo da crítica
Não sou particularmente fã do primeiro “Os Penetras”, mas não desgosto tanto assim do filme. Ele tem seus problemas, falha em estrutura de trama e desenvolvimento de personagens, mas funciona pontualmente de forma razoável como uma junção de algumas esquetes isoladas e pouco conectadas entre si. Neste segundo, no entanto, nem isso. O filme simplesmente não faz nenhum sentido, não possui quase nenhuma cena realmente engraçada e confirma a atual indústria brasileira de cinema de comédia como a maior ‘desperdiçadora’ de talentos de todo o mundo.
Digo isso porque considero Eduardo Sterblitch e Marcelo Adnet uma dupla de comediantes/humoristas bastante competente, especialmente este último – isso para não mencionar os outros bons atores e atrizes também envolvidos no projeto. O repertório cômico de Adnet é extremamente vasto, desde sua imensidão de referências culturais, até sua capacidade minimalista de fazer rir. Junto a isso, gosto muito mais do seu personagem no primeiro filme do que do debiloide interpretado por Sterblitch, o que torna a ideia de simplesmente tirá-lo da trama desta sequência algo realmente inexplicável.
Sim, Marco Polo (Adnet) morre logo no início do filme e o personagem aparece apenas nos delírios de Beto (Sterblitch), o que evidentemente é usado de forma tosca e repetitiva para fazer humor. Abalado com a morte de seu amigo (da onça), Beto logo se reúne novamente com Nelson (Stepan Nercessian, de “O Roubo da Taça”) e Laura (Mariana Ximenes, de “Uma Loucura de Mulher”), e, juntamente com o milionário Santiago (Danton Mello, “Vai Que Dá Certo 2”), o grupo se envolve em “altas confusões” quando conhece um mafioso russo que está acompanhado de Svetlana (Elena Sopova) – mais um personagem reaproveitado do primeiro filme – em um leilão de arte.
Independente da minha preferência pessoal por Marcelo Adnet e seu Marco Polo, a opção do script em girar a história toda em torno do Beto de Sterblitch se mostra falha a partir do momento em que os outros personagens aparecem em tela somente como escada para que ele possa brilhar. Se no primeiro filme todos tinham a oportunidade de se destacar, mesmo que por breves instantes, aqui essa presença é muito mal distribuída. Em resumo, “cortaram” o personagem mais divertido e redistribuíram porcamente a participação dos demais (novos e antigos).
Não há muito o que comentar da trama em si e de suas reviravoltas, uma vez que a proposta em sua concepção primária é bizarra. Se no longa original, por exemplo, a dupla fica invadindo festa atrás de festa tendo Laura como o objetivo final de ambos, justificando inclusive o título da obra, neste o grupo entra de penetra em apenas um evento, quase que apenas para fundamentar a continuação da história sem mudar o nome do filme, e até acrescentando um subtítulo que também pouco dialoga com o enredo. O diretor Andrucha Waddington, como “Sob Pressão“, “Casa de Areia“, “Eu, Tu Eles” – que possui trabalhos muito mais interessantes em seu currículo -, neste caso, pouco pode fazer com o texto pobre e sem estrutura que o trio de roteiristas Renato Fagundes, João Paulo Horta e Ulisses Molusco Oliveira lhe entregou em mãos.
Geralmente, admiro comédias que saem do lugar comum e fazem piada sem se preocupar muito com o fato de que eventualmente ela possa ser ofensiva para um ou outro grupo de pessoas, ou mesmo com más interpretações das mesmas, mas este “Penetras 2: Quem dá Mais?” se mostra absolutamente intragável, ainda que seja “corajoso” sob este ponto de vista. Não há resoluções politicamente corretas, muito menos “liçãozinha” de moral, mas isso de pouco adianta quando o material apresentado simplesmente não tem qualidade mínima para se sustentar como obra cinematográfica de comédia.