Apropriando-se do argumento do primeiro filme, com uma execução imensamente inferior, o abismo resultante da comparação expõe o quanto a sequência é falha.
Qualquer sequência deve ter como meta superar o seu antecessor. Para atingir o intento, é preciso apresentar novidades: a chave é inovar, surpreender. A necessidade se intensifica no segundo filme, pois este não tem a originalidade do primeiro, tampouco a tarefa de encerrar um ciclo. A saga de Jack Reacher padece do mal do segundo filme: uma transição não satisfatória.
“Jack Reacher: Sem Retorno” tem como enredo, assim como em “O Último Tiro” (primeiro filme), uma investigação promovida pelo protagonista para comprovar a inocência de um colega: agora, a major Susan Turner é a vítima que ele ajuda, presa e acusada de espionagem. Tudo como pretexto para que Reacher mostre suas habilidades únicas, tanto psíquicas quanto físicas.
O argumento é descaradamente repetido do primeiro filme, porém, desta vez, com muito menos perspicácia. Se “O Último Tiro” é medíocre, “Sem Retorno” é fraquíssimo. O ponto nevrálgico do roteiro é o suspense, relativo à explicação verdadeira dos fatos desfavoráveis à major Turner. Quando tudo faz sentido, percebe-se a ausência de criatividade no plot, bastante padrão no subgênero suspense de ação e sem inteligência alguma.
Não obstante, a chance de ir além estava lá. O roteiro menciona o machismo no exército, o tema é encarado, mas o enfrentamento sucumbe diante do inabalável poderio de Reacher. Mais uma vez, a mulher é enxergada como frágil, vulnerável e impotente. A solidão do protagonista também se faz presente, novamente de forma rasa. Os alívios cômicos, sempre pontuais, não chegam a eclipsar os exageros intragáveis, também pontuais (em especial na cena do avião). A tentativa de humanização do protagonista foi uma boa ideia, todavia, muito mal executada. É benéfico que ele tenha uma filha, mas sua inserção na narrativa é artificial, forçosa e desconfortável.
Desconforto que Tom Cruise também tem ao interpretar Jack Reacher pela segunda vez. Era a oportunidade para explorar mais a personalidade de Reacher, mas ele é exatamente o mesmo de “O Último Tiro”. Nem o carisma de Cruise o salva de um inafastável desinteresse – “Sem Retorno” é o pior da sua carreira nos últimos anos. Danika Yarosh, por sua vez, está tão perdida no filme quanto a personagem que interpreta – e encarnar a adolescente rebelde não tem muito charme. Já Cobie Smulders extrai o máximo do pouco que o roteiro fornece para a major Turner. Com maior aprofundamento, ofuscaria Reacher como Furiosa fez com Max. Ademais, para um filme maniqueísta, o vilão é quase inexistente, tamanha a sua ineficácia.
O diretor Edward Zwick não convenceu. O único momento atraente é logo no início, em que se seguem várias elipses nas quais Reacher e a major conversam e marcam um jantar. Entretanto, “Sem Retorno” não consegue ser envolvente, e a culpa não é – ao menos não exclusivamente – das obviedades e previsibilidades da narrativa – evidentemente, assumindo riscos, a trama teria acréscimos naturais. Sequer as sequências de ação empolgam! É verdade que já saber que o final será feliz dificulta que o espectador torça para o êxito do protagonista – afinal, qual a razão de torcer quando já se sabe o resultado? Todavia, não é menos verdade que o caminho percorrido é entediante (o que é decepcionante para um filme de ação). As cenas mais dinâmicas deveriam ser eletrizantes… mas ficam em um marasmo vexatório para um astro conhecido por recusar uso intenso de dublês.
Portanto, se a ideia é continuar, há muito para ser melhorado. O roteiro precisa ser melhor elaborado, com personagens cuja personalidade seja mais aprofundada – em especial o protagonista, que merece ser lapidado. A direção também carece de inventividade. Caso contrário, a involução sofrida pela saga se tornará irreversível.