Abraçando descompromissadamente o non-sense e o lado mais cafona dos bonecos esquisitos criados por Thomas Dam, esta nova empreitada musical da DreamWorks funciona justamente por sua leveza.
Ao ver o primeiro trailer deste “Trolls”, juro que esperei pelo pior. Felizmente, esta animação musical me pegou no contrapé justamente por não se levar nada a sério e abraçar com força a breguice de sua premissa. Sim, o longa dirigido por Mike Mitchell e Walt Dohrn tem sua eventual lição de moral no final, mas o desenvolvimento non-sense da trama, o carisma dos personagens e até a escolha das músicas fazem a produção funcionar.
O elemento insano vem justamente do fato de que muitos dos envolvidos, incluindo o já mencionado diretor Mike Mitchell e os roteiristas Jonathan Aibel e Glenn Berger, vieram do segundo filme da franquia “Bob Esponja”, que também tirou muito do seu humor do surreal.
Na trama, conhecemos os trolls, criaturas pequenas e coloridas que adoram cantar, dançar e abraçar. Essa alegria toda é interrompida com a chegada dos bergens, seres grandes, tristes e cinzentos que acreditam que só podem ser felizes devorando os trolls.
Vinte anos depois dos baixinhos conseguirem fugir de seus predadores, a princesa do reino feliz, Poppy, organiza uma festança em comemoração à fuga, sendo que a algazarra de luz e cores chama a atenção da ambiciosa Chef dos bergens, que captura vários amigos da princesa. Então, ela parte em uma missão de resgate junto do eternamente amuado Tronco, o único troll que detesta cantoria.
Quem achava que a Alegria de “Divertida Mente” era maníaca… Bom, comparada à trupe dos trolls, aquela personagem do filme da Pixar é comedida. Tanto é que a introdução de Tronco vem na hora exata para que o longa não se torne irritante e o equilíbrio entre o jeito sóbrio do personagem e a alegria constante de Poppy traz um humor meio Abbott & Costello, além de um dos melhores usos de “Sound of Silence” desde a série “Arrested Development”.
A construção dos bergens funciona melhor na narrativa que a dos trolls, até por existir um ótimo arco sobre o amor platônico da doce e insegura auxiliar de cozinha Bridget e do ingênuo Rei Gristle, que complementa bem a história, “humanizando” aqueles que seriam os antagonistas naturais da fita. Até mesmo o design dos bergens e a direção de arte do reino deles é mais interessante, remetendo a alguns trabalhos da Laika Animation, como “Os Boxtrolls” ou “Coraline e o Mundo Secreto”.
Mesmo tendo como mote a questão de uma raça devorando a outra, o filme jamais fica sombrio ou pesado, justamente por funcionar em termos absurdos, o tipo que a DreamWorks está acostumada a fazer nas franquias “Shrek” ou “Madagascar”, por exemplo. O visual diversificado e colorido e as próprias habilidades naturais dos trolls com seus cabelos fazem com que o 3D seja recomendado, pois realmente acrescenta algo na experiência.
Justin Timberlake, que faz a voz de Tronco no original, também é o produtor musical do longa e,, além de obviamente trazer o seu mais recente hit “Can’t Stop The Feeling”, também fez uma surpreendente seleção musical que, além da já citada “Sound of Silence”, também traz canções como “Hello” (de Lionel Ritchie), “True Colors” e “Total Eclipse of the Heart”.
Quem for conferir o filme em sua versão legendada, ouvirá essas músicas nas vozes do elenco original, capitaneado por Timberlake, Anna Kendrick e Zoey Deschanel (como Poppy e Bridget, respectivamente), mas a versão dublada surpreende pela qualidade na adaptação em português das canções, algo necessário para que as crianças menores entendam o sentido da história, justamente porque a trilha foi montada de modo a fazer parte da narrativa – a exceção sendo “Sound of Silence”, cantada em inglês mesmo.
Abraçando sem dó a breguice dos personagens-título, “Trolls” é uma produção leve, divertida e descompromissada, que deve agradar crianças e adultos, desde que entrem no espirito de insanidade da brincadeira, que inclui um troll prateado que fala em auto-tune e peida purpurina e outro que defeca doces.