Robert Langdon está de volta, desta vez em uma aventura deveras genérica que lembra mais um cruzamento infeliz de péssimos episódios de "Castle" e "24 Horas".
Em 2006, o simbologista Robert Langdon de Tom Hanks fez sua estreia nos cinemas com “O Código Da Vinci“, perseguindo segredos ocultos do Cristianismo. Em 2009, Langdon se meteu em outro perrengue com a Igreja Católica quando o Vaticano estava sob uma aparente ameaça terrorista em “Anjos e Demônios”. Sete anos depois, Langdon volta à telona, novamente vivido por Tom Hanks e sob a batuta de Ron Howard com este “Inferno”, baseado no livro homônimo de Dan Brown, criador do personagem.
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O protagonista e os espectadores são jogados no meio da trama, com o protagonista sofrendo de uma perda de memória recente e despertando em um hospital na Itália. Caçado por assassinos e aparentemente por agentes da Organização Mundial de Saúde sem saber o motivo, Langdon e sua médica, Sienna (Felicity Jones), acabam sendo forçados a sair em busca de um vírus mortal, criado por um bilionário extremista (Ben Foster), que acredita que a superpopulação irá destruir a humanidade.
Seguindo pistas ligadas ao inferno imaginado por Dante em “A Divina Comédia”, o simbologista se vê sem poder confiar plenamente em sua mente e em meio a uma conspiração global, com o destino de metade da população mundial em jogo.
Ao ler a cartela de créditos do filme, vemos os nomes de talento envolvidos na produção, a começar pelo próprio Hanks e pelo diretor Ron Howard. Aí temos o experiente David Koepp no roteiro, um ótimo elenco de apoio, Hans Zimmer na trilha sonora… E os únicos que fizeram suas partes para o ingresso valer a pena foram Salvatore Totino na direção de fotografia e o designer de produção Peter Wenham.
Poderíamos ainda citar o ótimo ator indiano Irrfan Khan como o líder de um grupo de mercenários que é mais interessante que a batida trama do filme, mas o que realmente salva “Inferno” de ser uma total perda de tempo é como Howard, Totino e Wenham preenchem a tela com belos planos de diversos locais da Europa (especialmente da Itália) e criam belos cenários para os personagens passearem.
Chega a ser impressionante como, após três filmes, não sabemos de absolutamente nada sobre Robert Langdon além do fato dele ser uma Wikipédia humana metralhando o público com rajadas intermináveis de diálogos expositivos. Nem mesmo o carisma inegável de Tom Hanks ou as diversas muletas usadas por Koepp aqui conseguem dar alguma direção concreta para o personagem. Se passou uma trilogia inteira sem que sequer tenhamos um arco mostrando qualquer evolução do protagonista, que parece estar em uma série de TV policial dos anos 80 onde se apertava um botão de reset no final de cada episódio.
O roteiro de Koepp é tão pobre no sentido de desenvolvimento dos personagens que temos momentos que beiram o amadorismo, como o TOC de Sienna, apresentado apenas para ser abandonado, e até mesmo um personagem com grande importância para o mistério a ser solucionado que simplesmente some sem deixar vestígios ou alguém que se pergunte qual foi o seu destino. Nem mesmo a temática dantesca do vilão (que estaria mais à vontade tarde em um filme de James Bond dos anos 1970) é explorada a contento!
Some-se isso ainda a alguns plot twists que já estão batidos até mesmo dentro da trilogia, um relacionamento amoroso para Langdon que surge do nada (uma das muletas de roteiro as quais me referi) e atores talentosos como Felicity Jones e Omar Sy reduzidos a interpretar estereótipos ambulantes e temos o pior filme da série. Algumas setpieces até que funcionam, como o tiroteio em Florença, mas considerando que os arrastados 121 minutos de projeção são coroados ainda um clímax desprovido de qualquer lógica ou mesmo senso de localização espacial, não dá pra dizer que a ação do filme impressione.
Pessoalmente, sou fã de Tom Hanks e de Ron Howard. As carreiras dos dois falam por elas mesmas. O fato é que os dois simplesmente não acertaram com essas adaptações dos livros de Dan Brown. Bom, ao menos ficam as belas imagens em IMAX do tour do longa pela Europa.