Primeira animação da trupe liderada por Seth Rogen, o filme se resume a palavrões, referência a sexo e drogas e piadas fracas.
Comédia é como música, no sentido em que exige um timing certo para cada uma das notas para não se transformar em uma mera cacofonia de sons. Geralmente, Seth Rogen e sua trupe acertam no tom, mas aqui, em sua primeira empreitada animada, resolveram insistir em um samba de uma nota só.
E essa é a melhor definição que pode ser dado a “Festa da Salsicha”. Isso porque o humor do filme jaz apenas em sua escatologia. Claro, no decorrer dos seus 90 minutos o longa tenta usar metáforas para falar sobre religião, consumismo, relacionamentos, sexo, história e cultura pop, mas tudo isso se perde pelo fato de que o longa insiste em ser o mais nojento possível, mesmo quando isso prejudica o andamento da trama.
Escrito por Rogen e seus colaboradores habituais Evan Goldberg, Ariel Shaffir, Kyle Hunter e Jonah Hill, com direção de Conrad Vernon (“Shrek 2”) e Greg Tiernan (vários curtas da franquia “Thomas e Seus Amigos”), a história gira em torno de um grupo de produtos de um supermercado que acreditam que os humanos que os escolhem nas prateleiras são deuses que os estão levando para o paraíso.
Uma salsicha chamada Frank e sua companheira, a bisnaga Brenda, acabam caindo do carrinho de compras e tentam voltar para a prateleira, quando Frank começa a questionar seu destino e parte para descobrir a verdade terrível sobre os humanos, encarando ainda uma crise em seu relacionamento e a ameaça de uma Ducha psicótica sedenta por vingança.
Essa premissa, meio “Toy Story”, meio “No Mundo de 2020”, não passa de uma desculpa para Rogen e companhia desferirem uma rajada incontrolável de palavrões, profanidades, trocadilhos sexuais e baixaria. O longa passa tão longe da linha do politicamente correto que a linha virou um ponto. O lendário George Carlin também não ligava para o PC, mas suas piadas eram genuinamente engraçadas (e, não raro, relevantes). A questão é que o material de Rogen – adaptado no Brasil pelo grupo Porta dos Fundos -, só faz chocar e incomodar, pouco fazendo rir.
Não se trata de algo como o primeiro “Ted”, onde Seth MacFarlane conseguiu encontrar a mistura perfeita entre o doce e o provocativo. Qualquer subtexto que a trama pudesse ter, ou mesmo alguma ligação emocional entre o público e os personagens (geralmente algo no que Rogen acerta) vai pelo ralo justamente por conta da insistência do longa em ser o mais detestável possível, algo que chega a um clímax no terceiro ato, onde o que já não tinha freio se torna completamente descontrolado.
Visualmente, o design dos personagens é interessante (o antagonista Ducha é um dos que melhor representam a imaginativa antromorfização dos produtos do supermercado), mas o orçamento enxuto da produção não dá muita margem para espetáculos visuais. De todo modo, o co-diretor Greg Tiernen está acostumado a fazer o máximo com pouco dinheiro e a produção não decepciona neste departamento, conseguindo até mesmo fazer algumas referências à Pixar no decorrer da projeção.
Eventualmente, uma ou outra piada funciona, mas o longa como um todo jamais engrena e mais parece um forçado exercício narrativo de mau gosto do que um filme propriamente dito.