Bom elenco, mesmo que fora do tom, não é o suficiente para salvar um roteiro pouco inspirado e que não trabalha por suas piadas.
Há alguns meses, li um livro bem interessante chamado “Eu Te Amo, Phillip Morris“, do autor Steve McVicker, que conta a incrível história real de um homem que conseguiu escapar inúmeras vezes da prisão, muitas das quais para estar junto da pessoa pela qual era apaixonado, o Phillip Morris que dá título à obra. Em uma rápida pesquisa, fiquei impressionado ao saber que o livro já havia sido adaptado para o cinema em formato de comédia, estrelando Jim Carrey, Ewan McGregor e com participação do brasileiro Rodrigo Santoro.
Na minha cabeça, a história era muito mais densa, cheia de camadas e possibilidades do que o que uma comédia ‘pastelão’ poderia oferecer. Talvez preconceito meu, uma vez que “O Golpista do Ano” (2009) foi até bem recebido por público e crítica na época (confesso que nunca cheguei a ver o filme), o que só prova que uma mesma história pode ser contada de diversas maneiras e interpretada sob diversos prismas.
Isto posto, foi um pouco frustrante chegar aos créditos finais deste “Gênios do Crime” e ver imagens dos reais envolvidos nos acontecimentos relatados no filme ao lado dos atores e atrizes que os protagonizaram na adaptação cinematográfica. Eventos marcantes e que poderiam ser muito melhor explorados (seja no gênero comédia ou não) são desperdiçados em um enredo absolutamente sem graça e desinteressante, que, ao abusar do humor físico e forçado, ofusca até seu ótimo elenco. Zach Galifianakis nunca foi tão boring e Owen Wilson nunca tão sem carisma. Kristen Wiig ainda se salva, mas não ao ponto de salvar o filme consigo.
Baseado em fatos reais, portanto, “Gênios do Crime” acompanha a história por trás de um dos maiores roubos da história norte-americana. David (Galifianakis) trabalha para uma companhia de carro-forte no sul dos Estados Unidos e é apaixonado por sua colega de empresa, Kelly (Wiig). Após ser demitida e se juntar com uma trupe de desajustados ‘liderada’ por Steve (Wilson), ela usa seu poder de influência sobre o abobalhado David para convencê-lo a colaborar com o grupo para assaltar os cofres do estabelecimento.
É um típico filme de roubo, tantas outras vezes já visto, mas aqui levado para o lado da comédia. A partir do momento que um realizador se propõe a fazer algo do tipo, no entanto, o mínimo que se espera é que ele utilize as situações que vão se sucedendo no roteiro em favor da sua ideia em ser uma obra engraçada. Quedas, tiros que saem sem o disparo do gatilho, um personagem irrealmente bobo: tudo isso são truques muito pedestres de humor, que poderiam estar presentes em qualquer realização medíocre do gênero.
Quando tenta ser um pouco mais refinado, entretanto, o roteiro de Chris Bowman, Hubbel Palmer e Emily Spivey desaba completamente ao não plantar as pistas corretas ao longo do caminho para que tenhamos nossa ‘recompensa’ como espectador quando a ‘magia da piada’ se revela. Os modos como os personagens agem e se relacionam não são convenientemente estabelecidos no começo da história, então quando as gracinhas em relação a isso começam a ser feitas, elas não causam o impacto necessário porque o script não trabalhou neste sentido. Essa falta de esmero na preparação das situações só as tornam pouco críveis e abalam a suspensão de descrença de quem está do lado de cá da tela. (Sobre essa questão, apenas um pequeno disclamer: uma dessas piadas mal preparadas, já na metade final da trama, todavia, pode ter sido uma ótima referência ao plot twist final de “Batman vs. Superman“. Se a ideia realmente foi essa, peço desculpas aos realizadores e reverencio esta ótima sacada – talvez a melhor do filme. Se não… continua valendo o exposto no parágrafo para este caso também.)
A direção de Jared Hess (“Napoleon Dynamite“, 2004) , neste sentido, também é um elemento que não acrescenta nada de especial à narrativa – câmeras de segurança utilizadas como ‘catapulta’ para o humor, sequências de perseguição pouco inspiradas, etc. Tudo parece muito genérico e sem propósito. Mesmo o outrora divertido Zach Galifianakis não desperta o mínimo tremelique nos lábios na hora de tentar fazer o público rir. Aliás, se o seu sotaque sulista bizarramente carregado também foi uma dessas tentativas fracassadas, é realmente de impressionar a sua falta de inspiração cômica.
Algumas cenas pontuais até funcionam, principalmente quando algumas participações especiais vão se revelando (e aqui reitero o disclamer sobre a possível referência à “Batman vs Superman“), mas nada que salve o longe de resultado bem abaixo da média. Um besteirol com bom elenco em má sintonia, e nada além disso.