Em nova empreitada fora da comédia, o diretor de "Se Beber, Não Case!" faz um filme de história crível, mas que se mostra enfadonho ao longo do tempo.
Mesmo tendo no currículo apenas comédias aparentemente despretensiosas, Todd Phillips é um cineasta que chamou atenção por trazer para seus filmes uma linguagem um tanto atípica dentro da indústria, especialmente com o sucesso “Se Beber, Não Case!” (2009). Assim como seus contemporâneos Judd Apatow e John Hamburg, Phillips conseguiu incrementar uma nova dinâmica ao estilo, não só pelo texto cheio de situações surpreendentes, mas também por saber conduzir uma narrativa que vai aos poucos montando a trama, igualmente as lembranças dos protagonistas.
Desde então, o diretor fez três longas que mais pareciam episódios requentados do próprio “The Hangover“, aliás, dois deles são continuações diretas. Mas eis que chega aos cinemas “Cães de Guerra”, marcada como a primeira produção de Todd Phillips a fugir um pouco do gênero da comédia, ainda que obviamente possua gags características durante boa parte de sua duração. Mas essa nova abordagem é revelada logo de início, onde vemos uma cena violenta de grande impacto e logo depois recortes e insertes de reportagens políticas e vídeos de confrontos de guerra.
Inclusive, a trama se baseia em um artigo da revista Rolling Stone que contava a história de dois jovens amigos que viraram traficantes de armas e chegaram a fazer transações internacionais para variados governos. E o modo que Phillips escolhe para contar esta história, através de ferramentas como narração em of, takes congelados e longos planos, remete bastante aos elementos utilizados por Martin Scorsese em muitos de seus filmes. Ou claramente é notado que a estrutura do texto e o perfil de alguns personagens sejam inspirados em “O Senhor das Armas” (2005), de Andrew Niccol.
De maneira geral a fita funciona e consegue até instigar o espectador para os próximos eventos da trama, no entanto a falta de ritmo em alguns andamentos e o roteiro prolixo, recheado de diálogos nada funcionais, denota o quão inchado é o filme em seu acabamento. As elipses episódicas aumentam ainda mais a impressão de momentos enfadonhos ou mesmo desnecessários do conto, ofuscando o desempenho final.
Por outro lado, felizmente o elenco encabeçado por Miles Teller e Jonah Hill injeta energia e mantém vivo o interesse do público, por passarem grande credibilidade às figuras que interpretam. Bradley Cooper, mesmo em pequena participação, traz também grande presença com o temível Henry Girard. E dentro de aspectos mais técnicos, “Cães de Guerra” se mostra interessante, até pelo rigor estético fotográfico, assinado por Lawrence Sher, que mescla bem os momentos de tensão e desespero com paletas mais frias. Em resumo, não é um grande filme que vai deixar a plateia empolgada após o fim da sessão, porém é o tipo que satisfaz e aparece como evolução na carreira do cineasta.