Originalidade não é muito o forte desta animação produzida pela Illumination, responsáveis pela franquia "Meu Malvado Favorito". No entanto, o carisma dos personagens e a familiaridade de algumas situações fazem do filme um entretenimento razoável.
Me interrompam se vocês já ouviram essa história: parceiros de humanos tem uma vida social escondida de seus “donos”. Carismático líder dessa sociedade, que ama seu humano, tem uma crise de ciúmes quando um novo parceiro aparece. O protagonista arma uma situação para se livrar do rival, acaba se perdendo no mundo junto dele e ambos precisam se ajudar para voltarem para casa.
Essa descrição se encaixa perfeitamente com “Toy Story” e com este “Pets – A Vida Secreta dos Bichos”. Nova produção da Illumination, que emplacou a bem-sucedida franquia “Meu Malvado Favorito” (daí as diversas referências aos amarelados minions no decorrer da produção), o longa certamente não se destaca por sua premissa original.
Dirigido pela dupla Chris Renaud (“Meu Malvado Favorito 2”) e Yarrow Cheney (estreando na função em longa-metragens) e escrito a oito mãos por Cinco Paul (“O Lorax”), Ken Daurio (“Hop – Rebeldes Sem Páscoa”), Brian Lynch (“Gato de Botas”) e Simon Rich (“Saturday Night Alice”), a fita tem como seu principal atrativo o carisma dos bichinhos de estimação que dão título à produção, em uma multiplicidade de cores e fofura que vão fazer a festa da garotada e amantes de animais.
A dupla central aqui é formada pelos cães Max e Duke, cujas personalidades e visuais contrastantes são o motor do plot principal, com a aceitação de um ao outro e a crescente amizade entre esses “irmãos adotivos” servindo como arco narrativo dos personagens. Outro plot envolve a tentativa dos pets amigos de Max em resgatá-lo. Há ainda um terceiro plot sobre um coelho psicótico que lidera uma revolta subterrânea de animais abandonado contra os humanos.
As linhas narrativas se alternam de maneira ágil durante a projeção, apresentando de maneira constante novas figuras visualmente interessantes. O design de criaturas e a direção de arte em geral do longa buscam integrar o visual dos animais e de Nova York na vida real com traços mais cartunescos, resultando em bichos e locações que são, ao mesmo tempo, familiares e divertidos, algo fundamental para o desenvolvimento da história e para a identificação do público com os personagens. A variedade de fofura, que abrange desde
Deste modo, por mais que as expressões faciais de Max e Duke sejam por demais antropomórficas ou que o “excesso de fofura” da gata Chloe se mostre irreal, essas características não impedem a audiência de ver seus próprios bichinhos sendo representados na telona. Aliás, esses momentos, nos quais os animais “fazem a festa” na ausência de seus donos são os mais divertidos do filme e, não por coincidência, os mais imaginativos.
O arco de Max e Duke é tão previsível que pode ser telegrafado mesmo pelas crianças mais ingênuas (embora um flashback envolvendo Duke seja genuinamente tocante) e o plot envolvendo a revolução dos bichos jamais é explorado em sua totalidade, mais aborrecendo do que divertindo, especialmente na insistência de uma gag envolvendo um personagem chamado Ricky (referência que ninguém dentro do público-alvo entenderá, diga-se).
A trilha sonora, composta pelo sempre competente Alexandre Desplat, tem um tom puxado para o jazz que remete bem à Nova York romantizada dos filmes de Woody Allen, dá um bom ritmo à aventura e até se comunica com a versão original do filme, haja vista que o comediante Louis C.K., também bastante ligado à Grande Maçã, faz a voz de Mas nos EUA.
Se perdendo eventualmente em algumas setpieces que pecam pela megalomania, “Pets – A Vida Secreta dos Bichos” acaba funcionando melhor justamente quando embarca na premissa prometida em seu título, quando deixa seus personagens conquistarem o público com suas fofuras e travessuras – assim como suas contrapartes de carne e osso.