Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Ben-Hur (2016): Nova versão é menos épica e mais voltada para a ação

Embora tente passar uma mensagem de compaixão e perdão, a mão pesada do filme acerta mais nas cenas de ação do que na alma de sua história.

Eu não invejo os realizadores deste “Ben-Hur”. O longa, é a quarta transposição do livro de Lew Wallace, mas concorre com a imortal versão de 1959, estrelada por Charlton Heston e ainda recordista em número de Oscars vencidos (empatada com “Titanic” e “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei”).

[PODCAST] Escute o RapaduraCast 216 sobre Ben-Hur (1959)

A adaptação dos anos cinquenta tem mais em comum com megaproduções como seus colegas recordistas da Academia e “Avatar” do que com esta nova versão, pois Timur Bekmambetov comanda algo mais próximo de um típico filme de ação contemporâneo. Com roteiro de John Ridley (“12 Anos de Escravidão”) e Keith R. Clarke (“Caminho da Liberdade”), o escopo da história foi reduzido e o foco está muito mais forte na relação dos irmãos de criação Judah Ben-Hur (Jack Huston) e Messala Severus (Toby Kebbell), o primeiro um judeu nobre e o segundo um romano.

Em meio a uma Jerusalem ocupada pelo Império Romano, o príncipe Ben-Hur é acusado de traição contra o Roma por Messala, que se tornou um membro de alto escalão das forças de ocupação romanas. Vendo sua família ser destroçada e preso nas galés por cinco anos, Ben-Hur retorna à sua terra buscando vingança, tendo a ajuda de Ilderim (Morgan Freeman) para entrar no confronto de bigas com Messala, mas a mensagem de Jesus (Rodrigo Santoro) pode mudar o rumo da vida de todos.

O texto de Ridley e Clarke acerta em dar maior complexidade a Mensala e suas motivações, material que o talentoso Toby Kebbell aproveita bem, mas a jornada de Ben-Hur nunca parece ter o peso que a história pede e as transições entre sua vida de luxo, calvário e retorno são extremamente abruptas, diminuindo o peso do arco do protagonista.

Jack Huston, apesar de ter a presença física necessária para o papel-título, surge como um herói quase que desprovido de carisma e, com o destaque maior dado a Mensala aqui, é constantemente engolido pelo colega Kebbell em cena ou por Morgan Freeman que, mesmo tendo um papel ingrato, com seu Ilderim em alguns momentos lembrando o treinador Mickey de “Rocky – Um Lutador”, ainda tem uma presença fortíssima (e é difícil não pensar em sua interpretação de Deus quando a voz do ator surge narrando a história).

Nesta versão Jesus ganha uma participação mais incisiva na história. Nada de sermão da montanha, mas algumas conversas diretas com Judah e sua esposa, Ester (Nazanin Boniadi). E, apesar de Rodrigo Santoro até se sair bem no papel do messias católico, o fato é que todas as aparições de Jesus no filme se mostram deveras forçadas e apressadas, até porque Timur Bekmambetov aparenta não ter a sensibilidade adequada para fazer essas cenas se com o restante da produção.

Após a corrida de bigas, o terceiro ato da fita simplesmente se perde em meio ao melodrama forçado, remetendo às novelas da Record, muito por conta da mão pesadíssima de Bekmambetov. Em compensação, o cineasta russo se sai melhor nas cenas de ação. O confronto nas galés é tenso e visualmente incrível e, embora a corrida de bigas peque por conta dos óbvios efeitos digitais, o diretor impõe um ritmo àgil a esta setpiece que é o clímax da história.

“Ben-Hur” possui cenas de ação competentes, mas o visual excessivamente artificial da produção (muito por conta da péssima paleta de cores do geralmente competente diretor de fotografia Oliver Wood) e a mão pesada na condução da trama sabotam as mensagens de perdão e compaixão que o filme tenta passar.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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