Zac Efron e Adam Devine brilham em comédia despretensiosa.
Em toda família, especialmente nas mais numerosas, há vários tipos de pessoas: os mais comportados, os fofoqueiros, os reclusos, os extrovertidos e, com ainda mais frequência, aqueles que são conhecidos por arrumarem confusão e transformarem comemorações em verdadeiros prenúncios do apocalipse. Em “Os Caça-Noivas” (mais uma adaptação questionável do título de uma comédia de Hollywood), o estreante diretor Jake Szymanski traz às telas dois irmãos que personificam essas figuras.
O filme conta a história de Mike (Adam Devine) e Dave (Zac Efron), dois jovens adultos que trabalham como vendedores de bebidas e que adoram curtir a vida, festas e, como efeito colateral, destruir reuniões familiares. Quando chega o dia do casamento de sua irmã mais nova, Jeanie (Sugar Lyn Beard) recebem um ultimato dos pais, Rose (Stephany Faracy) e Burt (Stephen Root): devem ir para a celebração no Havaí acompanhados de “moças direitas” (o que, para nós brasileiros, imediatamente remonta a famigerada manchete “Bela, recatada e do lar”) , de modo que se comportem e não estraguem mais um dia especial. Depois de ficarem famosos por divulgar a busca de suas acompanhantes na TV, conhecem a dupla Alice (Anna Kendrick) e Tatiana (Aubrey Plaza), duas garçonetes que vivem pulando de emprego em emprego, que veem nos irmãos a possibilidade de tirarem férias luxuosas com todas as despesas pagas.
Desde o momento em que somos apresentados aos protagonistas, em um manjado golpe de vendas, até o apoteótico momento final, o roteiro cria personagens que, ainda que absurdos, tem um bom desenvolvimento e um arco dramático interessante. Essa identificação vem de uma construção de personagens bem feita, especialmente pelos diálogos inspirados e a excelente química do elenco, especialmente entre Efron e Devine.
O elenco se apoia em seu talento para o improviso, o preciso timing cômico para construir cenas divertidas (e são muitas) com a mesma capacidade com que constrói cenas dramáticas, especialmente os diálogos mais “sérios” entre Dave e Alice. Os atores e atrizes também abusam do humor físico, com caretas, acrobacias, quedas, danças e todo tipo de artifício possível para provocar o riso. A única que fica um pouco aquém de seus colegas de set é Aubrey Plaza, que que mantém sempre a mesma expressão enjoada e carrancuda. Zac Efron e Adam Devine demonstram um entrosamento perfeito, mesmo em uma atuação cheia de exageros. Uma excelente surpresa é a presença de Stephen Root em um papel extremamente sério. Nem parece aquele ator de várias comédias em um estilo pastelão.
Apesar de ter uma estrutura baseada na sucessão de esquetes (que funcionam bem quase em sua totalidade), a trama não soa episódica, uma vez que tudo ocorre de uma forma bem costurada, preparando o público para as resoluções do terceiro ato. Entre essas esquetes, merecem destaque a excêntrica massagem para de dia de noiva, a corrida de quadriciclos, o envolvimento de Tatiana com um membro da família Stangle em uma sauna e o arrependimento de Mike e Dave no quarto de hotel quando fazem uma grande besteira.
Em tempos de politicamente correto, “Os Caça-Noivas” é um respiro de novidade em meio a produções sem graça baseadas em paródias, as produções brasileiras de baixíssimo nível ou comédias românticas previsíveis e repetitivas.