Prejudicado pela mão pesada de seu diretor, longa se sobressai por sobriedade com que aborda a história admirável de um campeão controverso.
“Ninguém vai bater mais forte do que a vida. Não importa como você vai bater e sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando; o quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha“, disse o provavelmente mais famoso lutador dos cinemas, Rocky Balboa (Stallone). A beleza de um bom filme que tem a luta como centro temático está justamente em traçar paralelos com as lutas do personagem fora dos ringues, as dificuldades do cotidiano e seus dramas pessoais. Nesse aspecto, “Mais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo” é basicamente perfeito, ainda que seja uma obra na qual se sinta a mão pesada de seu diretor e cometa excessos em mais de uma oportunidade.
Aqui, não acompanhamos a história de José Aldo, um dos maiores campeões de todos os tempos do UFC, mas sim a história de Juninho (José Loreto), o homem que saiu de uma vida em condições extremas na periferia de Manaus, no Amazonas, para se tornar um campeão e um protagonista de sua própria existência.
As intenções do cineasta Afonso Poyart são das melhores – ele que, ao lado de Marcelo Teixeira, também é responsável pelo roteiro, feito a partir de uma biografia literária do lutador -, ainda mais quando se mostra sóbrio ao não buscar ‘florear’ a história de um indivíduo inegavelmente controverso e que, ao longo do recorte mostrado pelo filme, também cometeu uma série de erros. Neste sentido, Loreto é preciso ao criar uma composição instável, deixando o espectador sempre sem saber exatamente o que esperar das reações de um sujeito que se mostrou agressivo e emocionalmente frágil desde o começo da construção de seu arco.
A técnica de Poyart, já provada apurada desde seu primeiro longa (“2 Coelhos”, 2012), funciona até o momento em que ela parece querer mais chamar atenção para si mesma do que contribuir de alguma forma mais efetiva para o andamento da narrativa. O excesso de câmeras lentas, tremidas e a opção frequente em enquadrar seu personagem principal em planos fechados e, portanto, claustrofóbicos, em uma tentativa um tanto quanto óbvia de nos fazer sentir seus conflitos internos, ainda que funcionem pontualmente, é algo bastante aquém do esperado para um cineasta que já se mostrou bem mais criativo e interessante em seu estilo cinematográfico.
Seu texto, no entanto, se mostra bem mais equilibrado do que sua condução estética e visual. Plantando sementes ‘dramáticas’ no início do enredo para colhê-las no final, longa fica bem mais leve e divertido quando José Aldo se muda para o Rio de Janeiro com o intuito de fugir de uma vida penosa no norte do país, especialmente do seu pai alcóolatra e violento, e começa a morar com o personagem de Rafinha Bastos na academia do treinador (seu até hoje), Dedé Pederneiras (interpretado pelo brilhante Milhem Cortaz), um dos mais respeitados do mundo do MMA na atualidade. Lá, ele conhece sua futura esposa, Vivi (Cléo Pires), arranja um emprego para se sustentar minimamente e, finalmente, tem seu talento para as artes marciais completamente descoberto.
Por mais que, à primeira vista, tudo pareça estar bem para Aldo, ele não esquece de sua família e amigos em Manaus e está constantemente preso ao seu passado. A própria relação com o pai o atormenta e persegue em seus treinos e lutas, em um bonito paralelo (aí sim, Poyart!) de como ele usa a agressividade que tem internalizada dentro de si no octógono, como que evitando utilizá-la para os fins que seu pai o fez. Ainda que considere a admiração que Aldo nutra por ele um tanto quanto incoerente (o cara realmente ‘não prestava’), ela não chega a ser um problema porque o roteiro trabalha bem o conflito entre ambos, de modo que por mais que você ‘não concorde’, você acaba por entender os motivos de um e de outro. Nada que justifique as canalhices cometidas por qualquer um deles, evidentemente.
Equilibrado em suas propostas temáticas, um pouco acima do tom do ponto de vista estético, longa apresenta uma narrativa instigante e que deixa sempre o espectador curioso sobre o que virá a seguir. Seja você um fã do grande campeão do MMA, José Aldo, ou simplesmente você que conheceu agora o menino Juninho, igualmente campeão.