Treze anos se passaram desde que o público viu a jornada submarina na qual a azulada peixinha Dory ajudou o neurótico peixe-palhaço Marlin a encontrar seu filho, Nemo. Agora, a Pixar retorna aos oceanos com este “Procurando Dory”, continuação onde ela assume o papel de protagonista. Afortunadamente, quem também retorna é o diretor e roteirista Andrew Stanton, que também comandou o longa original e “Wall-E”, não por coincidência dois dos melhores filmes da companhia.

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Desta vez, Stanton tem como co-diretor Angus MacLane (de vários curtas da Pixar). Os dois assinam o texto ao lado de e assina o texto ao lado de Victoria Strouse e Bob Peterson. De todo modo, é a voz de Stanton que se sobressai (boa parte do tempo) em uma trama que usa do problema de memória recente de Dory como motor.

Após um breve flashback no qual vemos como ela se separou de sua família, a narrativa avança para um ano depois dos eventos de “Procurando Nemo”, onde após uma breve lembrança de seus pais (Diane Keaton e Eugene Levy/Lina Rossana e Eduardo Borgerth), Dory (Ellen DeGeneres/Maíra Goes) resolve reencontrá-los, levando Marlin (Albert Brooks/Julio Chaves) e Nemo (Hayden Rolence/Rafael Mezadri) a tiracolo. Para desespero de Marlin, será outra daquelas viagens épicas onde eles novamente terão de cruzar o oceano inteiro, desta vez rumo a um instituto de vida marinha na Califórnia.

A estrutura narrativa adotada por Stanton e sua equipe, apesar de ser linear, encaixa flashbacks da infância de Dory que são disparados por eventos no presente. Assim, a deficiência da protagonista e como ela lida com sua condição acabam exercendo um papel fundamental no andamento da história, em uma ótima sacada dos realizadores.

Apesar do tema central da obra ser “a família”, a lição principal aqui é sobre como lidar com as suas próprias limitações. Não é à toa que boa parte dos novos personagens, como o polvo ranzinza Hank (Ed O’Neill/Antonio Tabet), a tubarão-baleia Destiny (Kaitlin Olson/Natali Pazete) ou a baleia beluga Bailey (Ty Burrell/Mckeidy Lisita) possuem problemas físicos que precisam ser vencidos no decorrer da aventura. A mensagem de superação é colocada de uma maneira orgânica dentro da fita, que jamais perde de vista o objetivo central da protagonista – algo deveras irônico, considerando a condição peculiar de Dory.

Toda essa parte dramática é trabalhada de maneira subtextual, com o filme jamais deixando de lado as boas gags e piadas ágeis e certeiras que marcaram o primeiro filme. Não que o roteiro seja perfeito. Alguns dos subplots são deveras previsíveis e o guião sofre tentando encontrar uma função para Marlin e Nemo.

No entanto, toda vez que o filme se centra na personagem-título, tudo isso fica de lado. Dory continua sendo adorável e carismática, com um otimismo praticamente inabalável e o contraste de sua personalidade alegre, não apenas com a rabugice traumática de Hank – que acaba sendo seu principal parceiro durante boa parte do longa -, mas com seu próprio passado de perdas, a torna uma heroína deveras interessante.

Como não poderia deixar de ser, a parte visual da produção é irrepreensível, com os efeitos de água, a miríade de cores e as expressões faciais impressionando, especialmente no gigantesco formato IMAX3D, que aqui faz realmente a diferença. A dublagem do estúdio Delart também é deveras competente, embora a mudança de Sigourney Weaver para Marília Gabriela como a voz do instituto marinho pareça um tanto… aleatória.

Pecando apenas no seu terceiro ato, quando o roteiro recorre a exageros cada vez maiores para resolver suas situações (quase em um irônico “Jumping The Shark” dos roteiristas), mas o coração do público já estava ganho ali. Este “Procurando Dory” pode não ser tão bom quanto “Procurando Nemo”, mas é certamente um dos mais divertidos da Pixar.

PS1: Tem uma ótima cena pós-créditos que amarra um gancho deixado pelo primeiro filme de maneira genial.

PS2: Cheguem cedo no cinema e confiram o maravilhoso curta da Pixar “Piper: Descobrindo o Mundo“, que lida com a busca de um pequeno passarinho para se alimentar sozinho de uma maneira sensível e engraçada – sem contar que o nível de detalhismo visual do cenário é impressionante até para os padrões do estúdio!