Irregular, longa possui alguns momentos muito melhores do que outros, possuindo mais refinamento do que poderia se supor à princípio, mas não o suficiente para elevá-lo a um patamar acima do mediano.
Certa vez comecei uma crítica dizendo que uma das melhores sensações para um cinéfilo é entrar em uma sala de cinema não esperando nada de um filme e sair dela surpreendido positivamente. Em outra, coloquei que existem determinadas obras que são ‘tragédias anunciadas’, que simplesmente não tinham como dar certo. Neste “Uma Loucura de Mulher” acontece exatamente a junção destes dois conceitos: fui para o cinema esperando uma tragédia anunciada e acabei surpreendido positivamente. A ironia de manter qualquer tipo de expectativa antes de ver um filme…
Evidente que, dado o baixo nível das comédias que estamos acostumados a assistir em circuito comercial, se surpreender positivamente com algumas delas não é exatamente classificá-la como uma obra-prima. “Uma Loucura de Mulher” é um longa bobinho, clichê, mas divertido e com alguns momentos pontuais que realmente poderiam elevá-la a um patamar, de fato, diferenciado. Pena que não são mais do que isso: ‘momentos pontuais’. Enfim, o que basicamente se tem por aqui é algo exatamente no meio do caminho entre um ‘besteirol’ e uma comédia ‘refinada’.
Dirigido pelo estreante Marcus Ligocki, o filme conta a história de Lúcia (Mariana Ximenes), que, casada com um político (Gero, interpretado por Bruno Garcia) obcecado pela possibilidade de se tornar governador (presidente? Isso não fica exatamente claro), parece estar vivendo a vida perfeita. Riqueza, conforto, influência, um suposto bom matrimônio, tudo parecia estar bem ao redor da candidata a primeira-dama, mas algo internamente ainda a deixava aflita. Essa aflição aflora completamente quando, após um incidente em evento que lançaria a candidatura de Gero, ele resolve declará-la ‘mentalmente instável’ em rede nacional, para que o acontecimento não suje sua imagem ou campanha.
A partir de então e sentindo-se traída, Lúcia resolve fugir do seu reino de comodidade em Brasília para retornar às suas origens em um bairro humilde da periferia do Rio de Janeiro, onde seu pai, já falecido, possuía um apartamento que até os dias de hoje não havia sido vendido. Lá, com a ajuda da sua hilária nova vizinha Rita (Guida Vianna), ela redescobre a alegria de ser solteira, a liberdade de estar sozinha e fazer o que bem quiser, e o prazer de perseguir os próprios desejos e partir em busca de sonhos e realizações pessoais. Uma vida realmente plena, enfim.
O script concebido por Kirsten Carthew e Angélica Lopes, além do próprio diretor Marcus Ligocki, segue mais ou menos o modus operandi dos filmes ‘padrão médio’ do gênero, com basicamente todos os arquétipos presentes (o alívio cômico, o ‘outro cara’ que servirá como alternativa ao status quo da protagonista, a amiga que não é tão amiga assim, etc) e sem nenhum elemento que o faça ser destaque pelo texto. A sub trama política por trás da história principal é até interessante, mas muito pouco explorada para que realmente acrescente algo verdadeiramente significativo ao enredo.
A mão refinada de Ligocki na condução da narrativa, ainda que de maneira irregular, é mesmo a qualidade que podemos apontar como o diferencial da obra. O diretor é responsável por algumas tomadas muito bem construídas, que aproveitam toda a beleza e ‘presença de palco’ de Mariana Ximenes, estendendo o tapete vermelho para que a excelente atriz possa mostrar o seu talento. A construção visual da cena onde ela e seu antigo affair se encontram em seu consultório, em especial, é digna dos melhores filmes românticos.
De todo modo, com alguns momentos muito melhores do que outros, as qualidades do longa não são suficientes para superar suas resoluções clichês e enredo ‘bobinho’. Se você está atrás de uma comédia romântica na média do que se vê por aí, protagonizada por atores e atrizes interessantes, com alguns toques de humor e outros mais de romance, sabendo exatamente os caminhos que vão ser seguidos e como a história vai se resolver, “Uma Loucura de Mulher” é uma boa opção. Não mais do que isso