Sequência entrega boa diversão e entretém com relativa eficiência, mas fica à sombra do longa que lhe deu origem
Se a principal característica de “Vizinhos” (2014) era sua admirável capacidade de não se levar a sério, quase como tirando sarro dos absurdos que aconteciam na trama, nesta sua continuação, “Vizinhos 2”, esse mérito permanece praticamente intacto. Com o modus operandi do roteiro seguindo basicamente a mesma fórmula do filme anterior, o bom e descompromissado entretenimento é garantido, ainda que dessa vez o fator ‘novidade’ não esteja mais presente e os realizadores se mostrem um pouco menos inspirados na escolha de determinadas piadas.
No script, agregam-se à dupla Andrew Jay Cohen e Brendan O’Brien, do primeiro longa, Evan Goldberg, o próprio ator protagonista Seth Rogen, e o diretor Nicholas Stoller, que permanece na condução da obra. Juntos, eles dão sequência à história do casal Mac (Rogen) e Kelly (Rose Byrne), que estão esperando um outro bebê e decidem vender a casa para se mudar para o subúrbio. As coisas novamente mudam de figura quando uma fraternidade universitária, dessa vez composta apenas por mulheres e lideradas pela Shelby de Chloe Grace Moretz, se muda para casa ao lado e começa a infernizar a vida do casal, comprometendo até a venda do imóvel que parecia certa.
Em termos de enredo, a alteração mais significativa em relação ao primeiro longa é que, aqui, o personagem de Zac Efron passa a jogar no time de Mac e Kelly. Devido à frustração com seus amigos de faculdade e à própria vida pós formado, Teddy buscava uma “volta às origens”, retornando à antiga casa-sede da Delta Psi, depois das decepções da vida adulta. Chegando lá, ele ajuda o novo grupo de meninas e se estabelecer como uma fraternidade respeitável (ainda que feminina), mas logo é rejeitado por elas, o que lhe faz ‘virar a casaca’ e partir para ajudar Mac e Kelly no embate entre vizinhos.
Antes que estranhem o ‘ainda que feminina’, isso é uma discussão temática proposta pelo próprio filme. Continuando afiado em seu humor politicamente incorreto, essa sequência brinca sim com o sexismo existente em nossa sociedade, além de tocar em outras questões polêmicas e importantes de serem debatidas. Sempre com leveza e descontração, é bom que se diga, sem jamais carregar excessivamente seus posicionamentos, seja quando tira sarro de minorias, ou quando claramente procura defende-las. Neste sentido, o próprio “sarro” não deixa de ser uma maneira mais camuflada de defende-las, uma vez que o grande trunfo do primeiro filme, e isso continua aqui, é justamente fazer rir pelo ridículo bizarro das situações.
De um lado, temos um grupo de garotas querendo se estabelecer como uma comunidade forte e independente, enquanto do outro, nós temos uma dupla de adultos tentando sobreviver aos perrengues de tal fase da vida com a ajuda de um garotão frustrado que não conseguiu se adaptar justamente a essas mudanças. Por mais que, à princípio, possa parecer um filme como um humor meio ‘sacana’, na mais direta das palavras, “Vizinhos 2” acaba por instigar boas reflexões como pano de fundo, sem nunca esquecer suas “palhaçadas” e a leveza que o gênero pede, bem ao estilo Seth Rogen.
No entanto, algumas dessas “palhaçadas” se mostram menos inspiradas do que no longa anterior, empalidecendo um pouco os momentos cômicos que se sucedem em tela. Dessa forma, por mais que ainda haja tiradas irônicas e com certa fineza, o humor físico ganha mais espaço, de maneira que perseguições malucas e situações imorais se tornam uma base de sustentação forte para a comédia proposta, transformando a obra em um produto bem mais pastelão do que o filme que lhe precedeu.
No fim das contas, vale pelo bom entretenimento e pelo carisma dos atores e atrizes que protagonizam o enredo, além de algumas boas tiradas e reflexões interessantes, mas acaba ficando a sensação de que poderia ter sido um pouco melhor. Infelizmente, “Vizinhos 2” está à sombra de seu antecessor.