Esta adaptação do extremamente popular game para celular não é nenhum novo clássico da animação, mas é um bom divertimento.
Pela segunda semana seguida, chega aos cinemas brasileiros uma animação que adapta um famoso game para a telona. Agora é a vez dos pássaros raivosos de “Angry Birds” saírem das telas dos celulares em suas inúmeras versões serem catapultados para a sétima arte, em um filme com direção de uma dupla de estreantes na função, Clay Kaytis (animador em “Frozen”) e Fergal Reilly (artista de storyboard em “O Gigante de Ferro”).
Chegando através do selo Sony/Columbia, o longa é produzido pela divisão de animação da própria Rovio, empresa responsável pelos jogos originais. Considerando o material original, que é focado mais na jogabilidade através de arremessos de pássaros em trajetórias parabólicas do que em uma trama mais desenvolvida, o escritor Jon Vitti (veterano de animações para a TV como “O Rei do Pedaço” e “Os Simpsons” e que no cinema trabalhou na franquia “Alvin e os Esquilos”) teve certa liberdade para trabalhar no roteiro.
A aventura é focada no irritadiço Red (Jason Sudekis/Marcelo Adnet), pássaro malquisto por todos na Ilha dos Pássaros por conta de sua atitude raivosa e sobrancelhas protuberantes, sendo obrigado a fazer um curso de terapia de raiva ministrado pela meio riponga Matilda (Maya Rudolph/Dani Calabresa), onde conhece o hiperativo velocista Chuck (Josh Gad/Fábio Porchat) e o meigo e “explosivo” Bomba (Danny McBride/Mauro Ramos).
Quando um grupo de porcos liderados pelo cheio de lábia Leonard (Bill Hader/Guilherme Briggs) chega na ilha, Red é o único a desconfiar dos forasteiros, sendo novamente ignorado. Quando os porcos roubam os ovos dos pássaros e o mítico protetor das aves – e o único pássaro da ilha capaz de voar –, o Mega Águia (Peter Dinklage/Márcio Simões) se mostra não tão mega assim, Red é chamado para liderar o ataque aos suínos.
Com o perdão do trocadilho, o filme voa em seu primeiro ato, focado totalmente na relação de Red com os demais pássaros. A cena que mostra a sua história ao som de Black Sabbath é antológica e suas interações com os demais seres alados funciona muito bem desde o início e os diretores encontram ótimas maneiras de explorar visualmente as desventuras do bicudo avermelhado.
No entanto, com a chegada dos porcos, o ritmo cai vertiginosamente, pois o roteiro não consegue encaixar boas tiradas com os vilões malandros. Sim, brincar com o colonialismo dos bichos e fazer uma alegoria do escambo que aconteceu na relação Europa/Mundo Novo é legal, mas as piadas não fluem e, por consequência, o segundo ato não engrena de jeito nenhum.
Em seu terceiro ato, a produção se torna uma insana partida 3D de “Angry Birds”, com direito às características especiais de cada um dos pássaros sendo transportadas para a nova mídia de maneiras plasticamente inventivas. Nisso, o filme recupera algum ritmo e reencontra seu equilíbrio, embora deságüe em uma conclusão deveras previsível.
A dublagem nacional está excelente e, mesmo tendo sido escalado muito provavelmente por conta de suas sobrancelhas tão avantajadas quanto as de seu personagem, Marcelo Adnet faz um bom trabalho como Red, justamente por que se encaixa no perfil do protagonista, até mesmo em seu tipo de humor. Fábio Porchat é outro que encontra em Chuck um encaixe perfeito com sua persona cômica acelerada. Já Márcio Simões se diverte a valer com a canastrice do Mega Águia e Guilherme Briggs faz o que pode com o exagerado Leonard.
O saldo final é positivo, com a fita se mostrando bem divertida e encaixando uma trilha sonora surpreendentemente eclética. Mesmo não sendo um futuro clássico, vai agradar aos fãs dos games e se mostra um passatempo digno.