Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de maio de 2016

Heróis da Galáxia: Ratchet e Clank (2016): um filme que cairá no esquecimento

Fraco em praticamente todos os quesitos, o destaque positivo vai para a dublagem, que adapta às falas à realidade brasileira contemporânea.

Heróis-da-Galáxia-Ratchet-Clank-Poster-nacionalSe “não se deve julgar um livro pela capa”, também não é correto julgar um filme pelo trailer. Contudo, é difícil não fazer uma previsão ruim (em pré-julgamento, o que não é recomendável) de “Heróis da Galáxia: Ratchet e Clank”, que não é tão ruim quanto parece – mas também está bem distante da qualidade desejável. A bilheteria reduzidíssima não se deu à toa.

O roteiro é praticamente monotemático: Ratchet é um destemido – e atrapalhado – lombax que trabalha como mecânico, mas que sonha em se tornar um guarda galáctico. Após ser rejeitado pelo seu ídolo, Capitão Qwark, o lombax se une a um novo amigo, o robô Clank, para evitar um ataque do vilão Drek. É neste momento que surge a grande chance de Ratchet para concretizar seu sonho.

Repleto de frases de efeito, são injetadas no plot também piadas sem graça, quiçá para apagar a ausência de subtramas. Alguns questionamentos até se fazem presentes – o que significa ser herói? Qual o valor da amizade? Até que ponto pode ir a vaidade? –, mas de maneira tão rasa que o exercício de pescar as reflexões não compensa o esforço. Paradoxalmente, o jogo no qual o longa se baseia é do início da década passada (público-alvo, no mínimo, adolescente), enquanto o enredo e seu desenvolvimento são claramente infantis. Existem sátiras ao maniqueísmo protocolar dos filmes similares (como a contagem regressiva para o discurso do vilão) e surpreende ao ter vários plot points, todavia, nada disso salva o longa das suas fragilidades. Provavelmente sequer agrada a um espectador de 10 anos (que não é tão exigente). O pior é saber que há chance de continuação (como sugere uma cena durante os créditos).

O único acerto considerável do roteiro é a construção de personagens imperfeitas: cada um tem algum defeito notório, que enaltece as demais características (e os aproxima a nós, humanos). Ratchet tem sua primeira aparição dançando em frente à televisão, o que já lhe concede maior carisma (ampliado por ser bem atrapalhado). Isso não tem o condão, porém, de fazer com que o espectador “torça” pela jornada do protagonista – ao revés, não mexe com emoção nenhuma. Diversamente, o vilão principal não tem carisma nenhum, funcionando na narrativa apenas por ter apoio bélico e intelectual. O plot twist feito no lado antagonista soa mais como uma solução artificial e forçada do que como uma boa ideia.

Como se percebe, o filme é uma animação (técnica) de aventura (gênero) – a prova do seu nível baixo de qualidade reside no fato que a trama não empolga em nenhum momento. O trabalho de animação em si é bastante modesto, passando a impressão de que todos são feitos de plástico (o humanoide, o lombax e o robô). A direção de Kevin Munroe e Jericca Cleland elabora um visual que remete bastante a Star Wars, em homenagem repetida na montagem – a transição é heterodoxa ao ir além dos fades, bem no estilo SW. Ainda nos detalhes técnicos, a trilha sonora é agradável (o auge é com “Amazing Grace” numa cena de funeral). Por fim, é a primeira vez que a dublagem é o trabalho merecedor dos maiores elogios. Ao adaptar algumas falas à realidade brasileira atual, chama a atenção o esmero no trabalho, ratificando que existem bons trabalhos de dublagem.

“Heróis da Galáxia: Ratchet e Clank” não funcionou como longa-metragem. O jogo em que se embasa talvez tenha um quê especial que lhe permite sobreviver aos anos. O mesmo dificilmente ocorrerá com o filme, que cairá no esquecimento. Qual filme mesmo?

Diogo Rodrigues Manassés
@diogo_rm

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