Propostas interessantes e grande elenco não seguram roteiro medíocre.
Sabe aquele filme que você até sai satisfeito da sala de cinema após assisti-lo, mas quanto mais o tempo passa e você reflete sobre ele, mais a sua concepção do mesmo vai se alterando? Ou mesmo quando, no decorrer da própria projeção, você curtindo a experiência e vidrado no desenrolar da trama, quando para pra pensar um pouquinho chega à seguinte conclusão: “Pera aí, esse filme não é bom coisa nenhuma”? Pois é, é o caso deste “Mente Criminosa”, uma obra com propostas e ideias interessantes, além de grande elenco de apoio, mas que se sabota por escolhas de roteiro estapafúrdias e péssimo desenvolvimento de personagens.
Veja a sinopse do longa e tente não achar o argumento do script, no mínimo, interessante: um agente da CIA morto em operação deixa sua equipe recheada de dúvidas sobre caso que resultou em seu assassinato, o que ameaça a segurança do mundo inteiro. Então, um médico decide fazer um “transplante” das suas memórias, sentimentos, segredos e habilidades para a cabeça de um perigoso criminoso, devido suas melhores condições para receber a cirurgia, que nunca havia sido testada em seres humanos antes. O agente morto? Ryan Reynolds (Bill Pope). O chefe da equipe? Gary Oldman (Quaker Wells). O médico? Tommy Lee Jones (Dr. Franks). O perigoso indivíduo que recebeu o transplante? Kevin Costner (Jerico). Ah, e a mulher do agente morto? Gal Gadot (Jill Pope). Gostando um pouco mais ou um pouco menos de cada um desses nomes, é inegável o peso que eles possuem. Não tinha como dar errado.
Escrito pela dupla Douglas Cook e David Weisberg e dirigido pelo israelense Ariel Vromen, o fato é que existem muitos outros elementos entre um grande elenco e uma grande premissa para que o resultado final seja… um grande filme. Não, o longa não é um desastre. Há substância a se aproveitar, especialmente no que diz respeito à transição entre um Jerico essencialmente quebrado pelo seu passado aterrorizante e um outro influenciado pelas memórias e sentimentos de uma vida feliz e estável levada pelo falecido Bill Pope.
Perdido entre o que ele sempre foi (e o que ele sempre entendeu por e de si mesmo) e um agente honrado, com família e estrutura, o constante conflito psicológico de Jerico é a mais bela construção do longa, mesmo que na reta final isso empalideça um pouco – mais sobre a questão em seguida. É a clássica dinâmica vilão/herói, só que aqui esse duelo não é travado externamente, em um combate épico e singular, mas desenrolado exclusivamente na cabeça do próprio protagonista.
O problema é que essa, aparentemente, não é a história que a obra quer contar. Tão perdido quanto o personagem principal parece ser o texto de Cook e Weisberg, cuja preocupação está mais em focar no grande plano maléfico do vilão “externo” da trama, que pretende destruir o mundo inteiro por motivações que em instante algum são minimamente exploradas. Para isso, os realizadores preferiram constituir os sujeitos da ação como indivíduos estereotipados, mas que, por mais que cheios de frases de efeito, no fundo não são mais do que uma caixa oca e sem qualquer conteúdo.
Neste sentido, até o próprio desenvolvimento de Jerico como um personagem fascinante fica comprometido, amarrado por um enredo pra lá de medíocre. Assim, as decisões de roteiro no terço final da projeção se mostram absolutamente esquisitas (para dizer o mínimo), resultando em momentos extremamente constrangedores. Sem me aprofundar em spoilers, mas a cena que encerra o filme, em especial, é daquelas sequências que fazem você querer se enterrar na cadeira do cinema e não se levantar mais; ou sair correndo dali e não voltar.
Uma pena, portanto, que uma obra com argumentos tão interessantes tenha sido desperdiçada por um roteiro falho e que escolhe caminhos errados para desenvolver sua trama. O que faltou foi justamente acreditar mais nas próprias ideias, no sentido de que elas pudessem realmente render um grande filme. Resolveram optar pelo usual em um filme de ação e acabaram por não se tornar mais do que isso, uma obra ordinária e esquecível.