Filme conta a história de um herói improvável com leveza e bom humor.
Em 1988, nos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary, no Canadá, o jovem Michael Edwards se tornou o primeiro britânico a disputar o salto com esqui em mais de sessenta anos. Apesar de ficar longe de medalhas, ele conquistou a admiração de todos, transformando-se em uma celebridade instantânea, sob a alcunha de “Eddie, the Eagle” (Eddie, a Águia). Quase trinta anos depois, o diretor Dexter Fletcher (sob a batuta de Matthew Vaughn, como produtor) traz às telas, ainda que com várias licenças dramáticas, essa história quase inacreditável.
O filme faz um recorte na vida de Edwards desde a infância (aqui interpretado por Tom Costello), passando pela adolescência (Jack Costello), até chegar a fase adulta (Taron Egerton). Apesar de ter problemas físicos, ele é um apaixonado por esportes e sonha em se tornar um atleta olímpico. No entanto, apesar do apoio da mãe (Jo Hartley), ele enfrenta a resistência do pai (Keith Allen), que quer que o filho acompanhe no trabalho de gesseiro na construção civil. Depois de descobrir a paixão pelo esqui (e ser covardemente defenestrado da equipe olímpica britânica), descobre uma brecha no regulamento do comitê olímpico e decide se tornar um competidor de Salto com Esqui. Para isso, vai parar na Alemanha, onde conhece Petra (Iris Berben), dona de um restaurante onde ocorrem as competições de Salto e oferece abrigo para Edwards em troca de trabalho e, possivelmente, de outros serviços do jovem. Também encontra Bronson Peary (Hugh Jackman), um americano ex-campeão do esporte, alcoólatra, que trabalha na manutenção das pistas de salto. Depois de muita insistência, e vários percalços, Bronson aceita a missão de ajudar Edwards a conseguir a classificação para os Jogos de Inverno.
O roteiro é todo desenvolvido em torno do protagonista, de forma linear, sem perder tempo com sub-tramas desnecessárias. Assim, somos apresentados a um jovem que apesar de ser ingênuo e sonhador, é decidido e seguro de si, apesar dos problemas físicos que poderiam, facilmente, ser usados como muletas, tanto para o roteiro quanto para a interpretação de Egerton. As diferenças em relação à realidade servem sempre para reduzir a quantidade de personagens e acrescentar profundidade à trama. Curiosamente, ao contrário do que poderia se esperar para o tema de superação, o gênero escolhido é a comédia, deixando a experiência bastante leve e agradável. Graças a essa escolha, não ficamos tão irritados ou frustrados com todos os momentos de bullying, por parte de seus colegas de modalidade ou as zombarias por suas escolhas mais inocentes, como preferir leite em vez de álcool ou sua virgindade.
O elenco se provou uma escolha excelente. Jo Hartley e Keith Allen demonstram uma química perfeita, tanto entre si quanto em seu relacionamento com Michael. Mark Benton e Tim McInnerny, que surgem como os representantes do comitê olímpico britânico, conseguem ser antipáticos e esnobes como seus personagens exigem. Hugh Jackman merece destaque, mas nem tanto. Apesar de fazer uma boa construção, ele parece ter dificuldade, em alguns momentos, de fugir da persona do Wolverine, seu papel mais famoso. Porém, o grande destaque pertence mesmo a Taron Egerton. Ele domina Eddie The Eagle em todos os seus aspectos, seja em sua fisionomia quase caricatural, seja em suas características subjetivas.
Nos aspectos visuais a obra é igualmente competente. A montagem dinâmica mantém o ritmo constante, o que faz com que o espectador fique ligado em tudo que se passa na tela. Algumas soluções para ilustrar a passagem de tempo são bem interessantes, como a sequência do acúmulo de troféus, ou a prática de Edward em várias modalidades até encontrar sua verdadeira paixão. O uso das cores é outro elemento importante na narrativa. Enquanto as cenas na oficina de Bronson são escuras e frias, as cenas envolvendo Eddie e suas paixões sempre evocam cores quentes, mesmo se tratando de um esporte praticado em baixíssimas temperaturas. Também chama a atenção a mudança na fotografia durante as décadas retratadas durante a projeção. Sempre somos levados àquela época, tanto pelas cores como pelas lentes e filtros utilizados. Sem falar da ótima trilha sonora.
Apesar da pouca experiência, o diretor Dexter Fletcher tem total domínio de todas as técnicas que se propõe a utilizar, com belos enquadramentos e excelente direção de atores. Dessa forma, ele conduz a história sempre de forma leve e edificante.
E é disso que se trata “Voando Alto”. Como devemos enfrentar as dificuldades na vida em busca de nossos objetivos: Sempre de cabeça erguida, sem mágoas e ressentimentos, sempre com um sorriso nos lábios. Que provavelmente é como o espectador deixará a sala de cinema.