Somando uma animação tecnicamente amadora e visualmente grosseira com um roteiro péssimo, o produto final é artisticamente desprezível.
O ocaso da criatividade hollywoodiana é evidente a cada novo filme que entra em cartaz nos cinemas. Basta aparecer um longa um pouco diferente que ele se torna destaque positivo, ainda que a qualidade final seja ruim. É como se a originalidade bastasse por si só, como se fosse uma virtude autônoma. A rigor, ser original é salutar, porém, insuficiente. E quando o filme sequer busca a originalidade? Nesse caso, entram em cartaz obras péssimas como “Norm e os Invencíveis”.
A narrativa tem como protagonista Norm, um urso polar que, deslocado da realidade em que vive por não ser um bom caçador, decide ir para Nova Iorque com o objetivo de salvar o Ártico da “invasão humana” que se anuncia, aproveitando-se da habilidade de se comunicar oralmente com humanos (“humanês”). Para executar a tarefa, conta a ajuda dos “invencíveis” lêmingues, animais com destreza física incomparável.
O primeiro ato se passa no Ártico, com uma ambientação grosseira que imita “A Era do Gelo” – mas muito inferior. Em Nova Iorque, os lêmingues ganham maior importância e se mostram uma versão piorada dos Minions. Como se percebe, o trabalho de animação é amador (os dentes dos lêmingues chegam a mudar de tamanho na mesma cena!), o que é visível do primeiro ao último plano. O ápice fica com a pelagem dos animais, que parece feita com a tecnologia de 30 anos atrás. Ou seja, em termos de técnica, a minúscula Splash Entertainment entrega ao espectador um produto visualmente horroroso.
Por sua vez, o roteiro conta com um romance que não se desenvolve, personagens sem carisma (o que costuma ser trunfo nas animações é justamente o carisma das personagens), um vilão histriônico detestável e um humor sem graça nenhuma – afinal, colocar o urso para rebolar deve ser engraçado apenas para crianças de até 2 anos… ou talvez nem para elas. As piadas escatológicas funcionam como cereja do bolo. Intelectualmente, no máximo a ave Sócrates chama a atenção com mensagens como “melhor não largar a escola” e uma referência à famosa expressão panem et circenses. A lição ambiental que o plot tenta – sem êxito – retratar acaba sendo ofuscada diante de tantos elementos ruins (sem contar a abordagem superficial).
De um filme com Rob Schneider (ainda que sua participação se reduza ao trabalho vocal na dublagem original) não se pode esperar algo muito melhor. O plano original era um lançamento direto em DVD. Melhor mesmo teria sido não lançar. “Norm e os Invencíveis” é tão sem personalidade que se torna desprezível em termos artísticos.