Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 10 de março de 2016

Como Ser Solteira (2016): um filme esquecível e descartável

Comédia apresenta roteiro e situações óbvias.

como-ser-solteiraNos últimos anos as comédias com temas adultos ganharam destaque nos cinemas, sobretudo após o sucesso de “Se Beber, Não Case” (2009). Dois anos depois chegou outro sucesso de público e crítica e, desta vez, recebendo destaque nas premiações: “Missão Madrinha de Casamento“, de Paul Feig. O longa é uma comédia absolutamente deliciosa de se ver e abriu as portas para Hollywood mostrar que comédias românticas mais realistas (sem aquela visão estereotipada e careta) podem funcionar. Não que isso seja uma novidade: a série da HBO, “Sex And The City“, já mostrava isso de forma verdadeira e cômica. E agora, em 2016, chega mais um representante do gênero, só que dessa vez o resultado não foi muito bom.

Na história, Alice (Dakota Johnson, praticamente repetindo seu papel em “Cinquenta Tons de Cinza“), que namorou Josh a adolescência inteira, resolve terminar o relacionamento para experimentar a vida de solteira. Ela muda de emprego e lá conhece Robin (Rebel Wilson, péssima no papel) e ambas vivem na noite de Nova York para curtir a vida. Também temos Meg (Leslie Mann, que foi a mãe de Emma Watson em “Bling Ring: A Gangue de Hollywood“), irmã mais velha de Alice, que é médica obstetra e dedicada ao trabalho, mas que sonha em ter um filho. Para isso, encomenda uma inseminação artificial pela internet, mas ainda sente que falta alguém em sua vida. E finalmente temos Lucy (Alison Brie, a Trudy de “Mad Men“), uma moça que procura um parceiro em sites de relacionamentos em um bar para aproveitar o wi-fi do local e faz uma matemática para achar o homem ideal, que obviamente, não funciona direito.

Se “Como Ser Solteira” fosse lançado há 20 anos, com certeza seria um daqueles filmes que descobriríamos na locadora – seu clima descontraído funciona muito melhor se visto em casa – sobretudo porque ele não está fazendo sucesso nos cinemas (teve a missão ingrata de estrear junto com o “Deadpool” nos EUA). Quem for vê-lo sem compromisso, pode achar alguma graça e embarcar na viagem do roteiro.

Por falar em roteiro, a roteirista Dana Fox, que também escreveu os péssimos “Belas e Perseguidas” e “Jogo de Amor em Las Vegas”, usa e abusa dos clichês e piadas vulgares em situações óbvias que são fáceis de descobrir como termina. Assim como a grande maioria das comédias para o público adulto, que se vendem como “modernas” e “descoladas”, “Como Ser Solteira” tem a promessa de ser tudo isso, mas que, no final, vai para o caminho mais óbvio e preguiçoso.

O desfecho moralista de “Como Ser Solteira“, com direito a uma narração em off, é vergonhoso e digno de Framboesa de Ouro. Não bastasse tudo isso, o filme ainda exalta demais Nova York e é, portanto, ufanista (bem como “Jogo de Amor em Las Vegas” foi, para a cidade dos cassinos).

O diretor Christian Ditter teve uma estréia bacana na direção com o simpático “Simplesmente Acontece“, com a Lily Collins, que era justamente sobre um casal de amigos que se separa conforme vão crescendo. É um legítimo “feel good movie”, mas aqui parece que se perdeu completamente, sobretudo na direção de atores, e alguns nem são exatamente ruins (como a própria Alison Brie), mas que pouco puderam fazer com o material que tinham nas mãos.

É difícil saber o que é pior aqui: o roteiro ou o péssimo papel de Rebel Wilson. Ela está canastra em todas as cenas e aqui é um alívio cômico que não tem graça. Aliás, fica difícil saber quem viu nela uma atriz comediante – a franquia “A Escolha Perfeita” está aí para comprovar.

“Como Ser Solteira” não é um desastre total. A trilha sonora é quase um personagem da história e casa muito bem com cada momento do filme, seja nos momentos de descontração (que são a maioria) ou até nos de “reflexão”. O arco da Lucy se mostra o único interessante e “assistível” do filme em relação à história principal, sobretudo no início, com ela usando o wi-fi do bar e os diálogos com Tom, o dono do local, se tornam mais verdadeiras do que as “lições de moral” da Robin em cima da Alice.

Infelizmente é uma comédia para ver e esquecer.

Raphael Brito
@rafalbrito

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