Atrizes carismáticas não dão conta de personagens desinteressantes, numa história recontada com mais êxito pelo menos uma dúzia de outras vezes.
No cinema hollywoodiano, assim como existe um linha específica de produções conhecidas como feel good movies (literalmente, filmes para se sentir bem), podemos dizer que existem os feel bad movies, que são aqueles que servem para empurrar o espectador em uma montanha-russa de emoções, fazê-lo irromper em lágrimas, repensar a vida e sair do cinema com o rosto inchado e um leve desidratação de tanto chorar. São filmes que apostam numa certa combinação de elementos para manipular nossas emoções, geralmente tendo a pretensão de nos apresentar alguma lição de moral edificante no final. O problema é que, assim como comida de micro-ondas, esses filmes acabam ficando sempre com o mesmo gosto. Quase indiferenciáveis entre si, suas receitas pasteurizadas revelam poucos traços de honestidade ou genuína inspiração.
“Já Estou Com Saudades” é um desses filmes. A nova produção de Catherine Hardwicke, diretora do primeiro filme da saga “Crepúsculo” (2008), aposta no entrosamento de duas atrizes carismáticas, Toni Collette e Drew Barrymore, para contar uma história sobre o valor de uma amizade verdadeira diante da inexorabilidade da morte. O problema é que toda o investimento na relação entre as protagonistas em cenas ora divertidinhas, ora pretensiosamente poéticas, resulta numa história genérica que parece nunca alcançar seu intento.
Filmes com tramas semelhantes já foram realizados quase à exaustão, alguns dos quais com muito mais êxito em emocionar sua audiência, como “Lado a Lado” (1998), com uma boa troca entre Julia Roberts e Susan Sarandon, e até o recente “Uma Prova de Amor” (2009), com Abigail Breslin e Cameron Diaz.
Não duvido que haja demanda para que filmes que abordam as dificuldades de se encarar a morte sejam realizados, até porque esse é um horizonte comum a todos e o cinema também deve trabalhar com as realidades mais palpáveis. A questão a se pensar é quando esses filmes dão certo e quando eles dão errado, e “Já Estou Com Saudades” certamente encaixa-se no segundo caso.
Roteirizado por Morwenna Banks a partir de sua peça Goodbye, apresentada pela primeira vez via rádio pela BBC inglesa, a história acompanha a amizade entre Milly (Collette) e Jess (Barrymore), iniciada quando esta última se muda, ainda criança, para a Inglaterra. Partilhando todos os aspectos da vida, mesmo as experiências mais íntimas, a infância e a adolescência são retratadas num protocolar e acelerado flashback narrado por Jess nos primeiros minutos da história, fazendo com que a ligação unha-e-carne entre essas duas mulheres fique um pouco mal construída. Já adultas, Milly é diagnosticada com câncer no mesmo período em que a amiga começa um tratamento para engravidar. Vivendo momentos muito diferentes da vida, elas têm de lidar com os desafios de suas realidades e isso faz com que essa amizade seja muitas vezes posta à prova.
A forçosa tentativa de embelezar o processo de morte começa com a escolha de Londres como cenário da história. Desde os sotaques, até as elegantes locações escolhidas dão um aspecto aristocrático que, somado à arrogância e egocentrismo da personagem de Milly, não colabora para que se desenvolva muita empatia por ela. Tudo é muito bonito, muito limpo, muito arrumado e embora não estejamos falando aqui de um filme de Michael Haneke (como “Amor”, de 2012), gráfico e impiedoso, mas sim de um drama leve com pitadas de humor, o tom escolhido soa um tanto quanto falseado.
Mesmo quando enfoca os impactos do câncer de Milly em sua vida familiar, retratando as reações de seus filhos pequenos, são poucas as vezes que o filme consegue ser fofo como gostaria, como na cena em que Milly faz uma didática apresentação às crianças sobre como funciona a quimioterapia e seu filho acha tão legal e diz desejar também fazer. Há uma falta de conexão entre os personagens que deixa a história simplesmente oca. Adiciona-se a isso a fragilidade dos coadjuvantes, que não introduzem nenhum outro núcleo à narrativa. Em outros momentos, a dramaticidade é tão artificialmente forçada que só nos traz irritação, como quando as protagonistas dançam “Losing My Religion”, do R.E.M., na companhia de um taxista gordinho, no cenário idílico dos campos ingleses.
Por fim, vale notar que Drew Barrymore tenta fazer uma atuação contida, sendo sua personagem um pouco mais tímida e reflexiva, porém o resultado é apenas apagado. Assim, mesmo utilizando todo o receituário feito para emocionar, onde a trilha sonora aumenta nos momentos certos e até a fotografia é moldada para esfriar nos cenas mais tristes, “Já Estou Com Saudades” acaba resultando em um filme vazio de qualquer sinal de originalidade.