Cineasta comanda adaptação de história real e, apesar de muitos problemas, demonstra ainda ter algum potencial artístico.
Em 2012, em meio à Primavera Árabe, o governo dos Estados enviou seu embaixador à Líbia, mais especificamente à cidade de Benghazi, como modo de reforçar as relações diplomáticas abaladas por ações terroristas ligadas ao ditador Muammar Al-Gaddafi. No entanto, durante essa visita, um vídeo divulgado na internet que zombava do profeta Maomé provocou a fúria de rebeldes líbios, que resolveram atacar a embaixada americana como retaliação àquele ato desrespeitoso. Porém, além da embaixada, os Estados Unidos mantinham naquela cidade, de forma clandestina, um posto avançado da CIA para observação, espionagem e outras operações secretas. A história dessa ação, e das medidas tomadas para o resgate, foi transformada em livro pelo autor Mitchel Zuckoff e foi transposta para as telas por Michael Bay, com roteiro de Chuck Hogan.
Antes de chegar à história principal, o filme tem a preocupação de apresentar (ou pelo menos tentar apresentar) os principais envolvidos nessa ação, com maior destaque para Jack Silva (John Krasinski), um membro de um grupo de elite do exército americano que resolve voltar a campo depois de um longo período de inatividade. Ao chegar a Benghazi ele reencontra o amigo de longa data Rone (James Badge Dale) e os novos camaradas de armas: Tanto (Pablo Schreiber), Tig (Dominic Fumusa), Oz (Max Martini) e Boon (David Denman). Eles devem agir, sob as ordens de Bob (David Costabile) como “guarda-costas” de espiões em algumas operações. Contudo, por conta do ataque à embaixada, o grupo se vê obrigado a tomar as primeiras providências, enquanto os reforços não chegam.
Apesar de ser uma história real, com uma considerável carga dramática, é impossível esquecer que estamos diante de um filme de Michael Bay (para o bem e para o mal). Vários elementos recorrentes em sua filmografia estão presentes, como as piadas bobas e fora de hora, câmera baixa – e girando -, câmera lenta, pôr do sol, personagens estereotipados, grande ausência de personagens negros, montagem frenética, e por aí vai.
Entre diálogos desnecessariamente expositivos e piadinhas sem graça o roteiro tenta amarrar as inúmeras cenas de ação, para construir uma sequência lógica de acontecimentos. Infelizmente essa intenção é massacrada de forma tão impiedosa quanto alguns soldados presentes no longa. A compreensão do que ocorre na tela é quase impossível, dada a quantidade de cortes rápidos nas cenas de ação e a total falta de senso geográfico no desenvolvimento da história. Tais deficiências ficam ainda mais gritantes com o uso constante de textos na tela informando horários e local de cada ação. Algumas sequências chegam a ser risíveis, uma vez que, entre um corte e outro, é impossível estabelecer a distância ou a passagem de tempo entre os vários eventos. No espaço de dois quilômetros vemos cenas intercaladas no mesmo intervalo de tempo com céu escuro e claro.
O mais frustrante disso é perceber que o diretor algum talento e criatividade. Alguns enquadramentos e soluções de problemas funcionam muito bem, como o ponto de vista dos drones ou o uso da luz infravermelho com os óculos de visão noturna. Outro acerto é a construção da tensão em determinados momentos, além da coragem em mostrar o impacto das mortes, gráficas e violentas. E o fato de evitar momentos exageradamente patrióticos, enaltecendo o “espírito libertador americano”, ao mostrá-los quase sempre como preconceituosos e sem escrúpulos, capazes de, por exemplo, falarem que roubaram carros de luxo com um sorriso cínico nos lábios. Além disso, ainda há uma crítica escancarada às deficiências daquela operação e falhas em todos os níveis de comando e burocracia envolvidos.
Já o trabalho do elenco é mais do mesmo. Os atores, ainda que demonstrem alguma capacidade interpretativa, fazem o que podem com seus personagens com a profundidade de um pires. Nem mesmo o protagonista escapa da fartura de frases de efeito e lições de moral vazias, além do esforço em exacerbar seus preconceitos e arrogantes pontos de vista. Na maioria das vezes seus aspectos físicos ficam mais em evidência que qualquer outra coisa.
Mesmo com todos esses problemas, é interessante perceber alguma evolução no trabalho do diretor, depois de tanto tempo na franquia Transformers e produzindo outras bobagens do tipo. Apesar das licenças dramáticas, a escolha por uma história real pode ser o início de uma carreira artística, em detrimento de apenas objetivos comerciais.