Se tem alguém que não precisa provar mais nada a ninguém, esse alguém é Robert De Niro. Com setenta e três anos de idade e cerca de cinquenta de carreira, protagonizou alguns dos filmes mais inesquecíveis do cinema moderno, trabalhando com praticamente todos os grandes diretores da indústria e atuando ao lado de estrelas compatíveis com sua grandeza. Atualmente, o ator parece reservar seus últimos bons anos para curtir Hollywood dando uma força nas produções de amigos e em pequenos filmes de comédia em que ainda possa faturar alguns trocados, mas, sobretudo, se divertir. E quem somos nós, meros mortais, para julgá-lo por isso?

De forma parecida ao que já fizera em “Ajuste de Contas” (2013) e “Um Senhor Estagiário” (2015), divertir-se e extravasar é exatamente o que ele faz em “Tirando o Atraso” (2016), dessa vez ao lado do eterno “High School Musical” Zac Efron e sob direção de Dan Mazer, produtor e roteirista parceiro das comédias escrachadas de Sacha Baron Cohen, dirigindo aqui apenas seu segundo filme para o cinema.

A história, a cargo do estreante John Phillips, é bastante simples: dias antes de seu casamento, o almofadinha Jason (Efron) é encarregado de levar seu avô recém viúvo (De Niro) em uma viagem à Flórida, em plena temporada de férias de verão. As piadas decorrentes daí, como não poderia deixar de ser, envolvem sexo e drogas, com altas doses de sexualização das mulheres e pitadas de auto depreciação sobre a idade do vovô.

Curiosamente, a parceria entre Efron e De Niro resulta em menos ruim do que inicialmente podemos supor. Certamente não encontramos aqui um par perfeito, tal qual um dia lhe fora Joe Pesci em “Os Bons Companheiros” (1990) e “Cassino” (1995), mas temos de ser justos em dizer que tampouco é embaraçoso ver um astro do seu calibre fazendo dupla com uma estrela teen que, sendo bem bonzinhos, podemos no máximo considerar mediano.

Embora soe um tanto quanto moralista de minha parte, o que inevitavelmente me perguntava durante a sessão era por que De Niro se dispõe a todas as imbecilidades que esse roteiro propõe, desde uma cena vergonhosa de masturbação até piadas tolas que transitam na linha tênue entre o politicamente incorreto e o simplesmente agressivo. Afinal, não estamos falando aqui de um Nicolas Cage endividado que precisa literalmente pegar qualquer papel que lhe apareça pela frente, mas do De Niro vencedor de dois Oscars, aquele que calçou os sapatos de Marlon Brando em “O Poderoso Chefão II” (1974), o mesmo que protagonizou cenas icônicas como “Are you talking to me?” (Taxi Driver, 1976) e que construiu toda uma persona cinematográfica como o símbolo do ítalo-americano mal encarado com quem você nunca vai querer mexer.

Inevitável também lembrar de “Vovô Sem Vergonha” (2013), da turma do Jackass, com a diferença que “Tirando o Atraso” consegue ser pior e ter menos imaginação do que esse outro filme. Eu sei que há quem diga que o humor resida justamente aí. É evidente que o cerne dessa produção, muito mais do que uma grande história, parece ter sido justamente a oportunidade de colocar De Niro dizendo todas aquelas bobagens e fazendo tantos outros absurdos, porém, sejamos honestos, quanto humor pode se tirar daí? Não digo que o filme seja completamente fracassado em fazer rir. Realmente existem cenas engraçadinhas, mas na maioria das vezes a vontade é de entrar na tela, pegar o velhinho pelo braço e dizer: “Amigo, você está passando vergonha”.

Comparado ao que vemos aqui, as participações de De Niro nas obras requentadas de David O. Russell, como “O Lado Bom da Vida” (2012) e o recente “Joy: O Nome do Sucesso” (2015), parecem obras-primas, o que só me leva a concluir, por mais difícil que isso seja, que talvez seja hora de assumir que esses tenham sido os bons últimos suspiros de sua incrível carreira.