As belas paisagens ficam ofuscadas por uma ideia que não convence, um visual que não encanta e cenas que não empolgam.
É inegável a escassez de originalidade que vem assolando a indústria cinematográfica. “Caçadores de Emoção – Além do Limite” é apenas um exemplo desse turbilhão de refilmagens, franquias intermináveis e spin-offs incontáveis. Trata-se do reboot do “Point Break” de 1991, protagonizado por Patrick Swayze e Keanu Reeves. Tecnicamente, é um reboot e não um remake: o enredo original (copiado por uma franquia veloz e furiosa) foi mantido na essência, bem como os nomes das personagens – mas só isso.
O prólogo serve para apresentar Johnny Utah (Luke Bracey) como um hábil praticante de motocross, acompanhado do amigo Jeff (Max Thieriot). O diálogo mais curto que a ação presente na cena já dá a entender que a ação predomina sobre o discurso. Como a ideia é injetar adrenalina, deixando o drama subentendido, Johnny parece cair de paraquedas no FBI 7 anos depois – o nexo entre uma cena e outra é praticamente subliminar. Desafiado por Hall (Delroy Lindo), seu instrutor, a mostrar real interesse no emprego, Utah o convence de uma teoria sobre uma gangue dentro da qual ingressa como agente infiltrado (cai também de paraquedas).
Através de um discurso encurtado ao máximo, o filme tenta vender uma ideia que não convence em grau mínimo. Os integrantes da gangue são adeptos de uma filosofia que mistura ecologia com ideais anarquistas, além da prática de esportes radicais sem material de segurança (por exemplo, snowboard, base jump e escalada). Como se não bastasse a incoerência relativa às pomposas festas das quais participam, defendem o que fazem como um enriquecimento espiritual: tendo em vista que o mundo está ruindo, o poliatletismo de esportes radicais poderia salvar a Terra mediante retribuição por entrega de oferendas (usam essas palavras). Estaria então justificado um roubo de diamantes, por exemplo. Não adianta: essa ideia não convence.
A premissa envenena o já fraco roteiro. Com um plot ruim, caberia ao inexperiente diretor Ericson Core salvar o longa no seu visual. As sequências de ação são reais, mas não realistas: locações em vários países e atletas experientes praticando os esportes, todavia, o CGI excessivo usado para embelezar prejudica a promissora fotografia, que fica artificial. Isso sem contar o exagero em algumas cenas – Bodhi e Utah causam inveja até mesmo ao Homem-Aranha. Assim, com um pé no real e outro no surreal, a filmagem em 3D de planos gerais com belíssimas paisagens fica ofuscada. Um desperdício!
Também desperdiçado foi o venezuelano Édgar Ramírez ao interpretar Bodhi. De que adianta escalar um bom ator se é para um papel raso? Já o australiano Luke Bracey é compatível com o papel: um ator inexpressivo para um protagonista oco. Ray Winstone e Teresa Palmer participam com papéis desnecessários: ela como um affair que em nada acrescenta (valendo inclusive o mesmo dito sobre Bracey); ele como um chefe que na prática serve como chofer.
“Caçadores de Emoção – Além do Limite” falha em seus dois objetivos possíveis: se queria convencer com ideias originais (para não ser um simples remake), acaba por reproduzir um discurso ideológico risível, de tão estapafúrdio; se queria encantar visualmente, a execução foi precipitada, sem conseguir ao menos empolgar na ação. Melhor esperar o original de 1991 passar na sessão da tarde.